Levar uma história em quadrinhos considerada clássica para as mesas de animação é uma tarefa difícil. Quando a Warner Bros. anunciou que A Piada Mortal ganharia uma adaptação para as telas, um misto de emoções arrepiou a espinha de muitos fãs. Pudera: estamos falando de uma das graphic novels mais icônicas e importantes das história em quadrinhos do Batman, herói favorito de muita, muita gente. É evidente que levar a relação do Homem Morcego com seu principal antagonista não seria nada fácil.
Porém, a animação de A Piada Mortal, exibido nos cinemas nessa semana, muda completamente o foco da história. Diferente da obra original de Alan Moore e Brian Bolland, a adaptação é sobre Barbara Gordon, a Batgirl.
O filme, que tem pouco mais de 1h15, conta duas histórias distintas. Com o roteiro adaptado pelo roteirista Brian Azzarello (de 100 Balas), a primeira parte foca em Batgirl e seu relacionamento com Batman durante a investigação de um chefe da máfia de Gotham, e sua obsessão pela personagem após um confronto. A segunda parte é a adaptação da história em quadrinhos.
Quem conhece a graphic novel sabe muito bem que tudo gira em torno do Coringa, e ponto. Apesar de ressalvas, essa parte da animação segue fiel à HQ, e eu recomento você a ler o quanto antes caso não tenha feito isso. O real problema da animação é o plot que o antecede.
Batgirl é uma das heroínas mais fortes da DC, mas na animação é retratada apenas como uma garota apaixonada querendo mostrar seu valor a Batman durante os primeiros 30 minutos completamente dispensáveis da animação, em uma história que passa longe da grandiosidade de Alan Moore. Se nos quadrinhos Batman era mais que um mentor, uma figura quase paterna, na animação ele é um interesse romântico da heroína que, entre conversas com seu colega da biblioteca que trabalha, expressa a paixão pelo herói sem sequer conhecer sua verdadeira identidade.
A opção de Azzarello em querer levar ao espectador que desconhece as histórias anteriores nos quadrinhos resulta numa história superficial, apelando para a sensualidade da personagem e bordões típicos de vilões de quinta categoria. Resumindo: uma introdução que não faz nenhum sentido para a verdadeira trama.
A segunda parte é a adaptação de A Piada Mortal, e felizmente é bem fiel aos quadrinhos. Todos os elementos estão lá: a noite chuvosa, o Asilo Arkham, a conversa de Batman com o Coringa e sua constatação de que um dia vão acabar se matando. A história de como se tornou o Coringa, o modo de provar seu ponto sobre a loucura, todo o texto do Moore estão ali, dublado por Mark Hamill (Coringa) e Kevin Conroy (Batman) – que arrisco dizer, são as únicas coisas boas de toda o longa. Infelizmente a atuação dos dois é escondida pelo traço inexpressivo da animação, que segue o estilo de Batman: The Animated Series, com mais violência explícita.
E novamente Batgirl aparece, em um dos momentos mais importantes (e fatídicos) da personagem. É quando a primeira parte da animação tenta fazer algum sentido para a história que já conhecemos, mesmo que desnecessário. O que era apenas um plano do Coringa para provar o seu ponto de vista sobre a loucura acaba se tornando uma forma de atingir Batman e Gordon, os arautos da justiça em Gotham City. E perde toda a graça.
Batman: A Piada Mortal poderia ser um curta de 30 minutos que contasse apenas a história da HQ. Sem introdução, sem história paralela, sem Batgirl, que está diminuída e não engrandecida, pela introdução dedicada à ela. Mas preferiram desperdiçar a oportunidade de fazer um trabalho muito melhor.
O resultado da animação é uma grande piada, daquelas tão sem graça quanto aquela que o Coringa conta no final: a dos dois loucos que escapam do hospício. Difícil de rir no final.