Sempre fui muito fã do Homem-Aranha. Posso não ter lido as histórias em quadrinhos, mas como vivemos em um universo multimídia, passei muitos dos meus dias jogando os seus jogos e assistindo desenhos animados. Por isso, assisti todos os filmes anteriores no cinema, gostando mais de uns do que de outros. Desta vez, não foi diferente.
Homem-Aranha: De volta ao Lar nos traz um novo Peter Parker. Não somente o ator parece um garoto de 15 anos, como o personagem é completamente imaturo e sem qualquer noção quanto às responsabilidades de ser um super herói. E, apesar de esse ser justamente o ponto forte do personagem, ele também acaba sendo um dos problemas que se carregam pelas duas horas de filme.
O roteiro do filme consegue ser extremamente bem construído, deixando os inícios de lado (afinal, todo mundo já sabe como ele ganhou os seus poderes), focando mais na sua evolução pessoal. A atuação de Tom Holland caiu como uma luva em um personagem tão energético e com hormônios florescendo, deixando-o até mesmo insuportável em vários momentos. As piadas funcionam como um atrativo ao público, que procura por um descanso mental de semanas cansativas e histórias complexas, mas podem cansar os que esperam por cenas mais densas e profundas. Tudo foi uma questão de escolha, já que é impossível agradar todo mundo.
Os personagens ao redor de Peter Parker sofrem com um problema que já se tornou padrão: os estereótipos. Há a garota popular, o nerd gordinho, o popular… é como uma fórmula já estabelecida, mas que parecem se encaixar no modelo apresentado. As melhores construções giram em torno dos vilões, que mesmo com momentos clichês, conseguem se mostrar muito mais profundos do que o esperado. São os conflitos com eles que tornam o filme mais conciso.
Uma das maiores preocupações dos espectadores era a presença de Tony Stark nas cenas. Sendo um filme do Homem-Aranha, seria necessário colocar outro herói para que sua narrativa se sustentasse? A resposta é positiva. O Homem de Ferro funciona como mentor, trazendo a consciência de Peter Park em momentos difíceis. Esse é um filme sobre o amadurecimento e o entendimento de que “com grandes poderes há grandes responsabilidades” – finalmente isso é mostrado de forma tão aprofundada.
A metalinguagem merece um enorme parabéns. Brincadeiras com coisas ditas pelos fãs, como “como ele consegue se pendurar se não tem nada no caminho?” fazem com que entendamos que estamos em uma era onde todas as mídias se tornam uma. Outras referências existem, e a aparição de Stan Lee é uma das mais divertidas já feitas. Sem comentários, então, para a última cena pós créditos (há duas, caso seja de interesse).
A parte visual do filme é o melhor exemplo de como alguns detalhes deixaram de ter o mesmo cuidado do restante. Enquanto em vários momentos esquecemos de estar vendo cenas feitas em computador, em outros fica claro o segundo exato em que a animação se mescla com o ator. Em uma cena específica, dentro da balsa, isso fica muito evidente. Pode parecer besteira, mas em tempos atuais isso pode significar uma enorme quebra de imersão, nos trazendo de volta ao mundo real e estragando um pouco da mágica do filme. Os outros filmes da Marvel conseguem evitar problemas assim, o que me faz indagar se as coisas não precisaram ser apressadas em algum momento para o lançamento de “de volta ao lar”.
Homem-Aranha: De volta ao Lar não é um filme feito para qualquer um. Aqui tudo é juvenil, com piadas simples e momentos de ação seguidos de frases de impacto, com uma linguagem feita para o público moderno e acostumado com a enorme velocidade de informações absorvidas diariamente. Diversas pontas ficam abertas, e é sabido que agora veremos muito mais filmes com esse Homem Aranha. Resta saber se desta vez ele fica, ou se em breve teremos mais um surgindo por aí. Ainda estou no aguardo de um que me deixe realmente satisfeito, já que esse me deixou apenas feliz.