Era uma vez, uma empresa japonesa de jogos eletrônicos que estava à beira da falência. Um de seus funcionários, desiludido com o fracasso de suas produções, pensava em desistir de tudo e voltar para a universidade. Mas, por ironia do destino, ele decidiu se empenhar num último projeto, uma história épica em um universo fantástico, onde 4 Guerreiros de Luz lutariam contra o mal para salvar o mundo. No final, eles conseguiram, sim, salvar o mundo, só que mal sabiam eles que iriam muito além: eles salvaram a empresa, tornaram-na uma gigante do setor e deram início a uma das séries mais conhecidas, influentes e lucrativas do mundo dos games. O nome da empresa era Square, o funcionário era Hironobu Sakaguchi, e o jogo era nada menos do que Final Fantasy.
Inspirado, em partes, em outros RPGs da época, como Dragon Quest, Final Fantasy foi lançado para o NES há exatos 25 anos (no dia 18 de dezembro de 1987) e foi um sucesso de vendas. Apesar do nome do jogo ser “Fantasia Final” (sim, este nome foi escolhido porque Sakaguchi pensava mesmo que este seria seu último jogo), ele não parou por aí. Muito longe disso.
Com o sucesso do primeiro, a Square produziu a sua sequência, Final Fantasy II, que inaugurou um padrão na série: apesar do mesmo nome, os jogos não teriam relação entre si, com personagens e mundos diferentes, embora com temáticas e mecânicas, muitas vezes, similares. Em seguida, ainda para o NES, surgiu Final Fantasy III, introduzindo o sistema de “jobs”, um sistema de classes de personagens que ia retornar em vários jogos da série.
Deixando a geração de 8-bits para trás, o quarto jogo foi lançado para o SNES em 1991. Um dos mais populares da franquia, Final Fantasy IV foi o primeiro a introduzir o Active Time Battle (ATB), uma mecânica no sistema de batalhas que se tornaria uma das marcas registradas da série. Mais do que isso, foi o primeiro da série a apresentar um grande elenco de personagens numa história dramática de proporções épicas, explorando os temas de relações pessoais, família, vida e morte. Tudo acompanhado de uma bela trilha sonora, composta por Nobuo Uematsu, tirando vantagem do potencial técnico do console de 16-bits.
Em seguida, Final Fantasy V viu um retorno ao sistema de jobs, desta vez mais complexo, mas foi o sexto jogo que deu um espetáculo à parte. Um enorme elenco de personagens bem explorados, uma história épica, uma trilha sonora memorável e um vilão mais do que pirado: Final Fantasy VI é lembrado não só como um dos melhores da série, mas como um dos melhores RPGs de todos os tempos.
Embora os japoneses já pudessem experimentar seis jogos da série, os americanos, até então, só puderam conhecer três deles, o que causou uma grande confusão. O primeiro Final Fantasy só chegou ao Ocidente em 1990, depois do lançamento dos três primeiros no Japão, fazendo com que Final Fantasy IV chegasse aos EUA como Final Fantasy II, e Final Fantasy VI como Final Fantasy III (já que não lançaram o quinto jogo no Ocidente). Esta confusão de números não ajudava em nada a Square, mas tudo seria resolvido (e muito bem resolvido) com o sétimo jogo, o projeto mais ambicioso até então.
Lançado em 1997 para o Playstation (PSX), Final Fantasy VII ocasiona acalorados debates, até hoje, sobre se é ou não o melhor da série. Contudo, o que é inquestionável é o fato de ser o mais popular. Desta vez, unificando a numeração no Japão e nos EUA (além de ser o primeiro a chegar à Europa), Final Fantasy VII foi um marco na história dos games, popularizando, definitivamente, os RPGs no mundo inteiro. Tirando proveito do potencial gráfico do console, o sétimo jogo da série apresentou gráficos estonteantes para a época, com animações em computação gráfica de um realismo incrível, além de uma excelente história e personagens incríveis. E se o vilão não era tão pirado quanto o do jogo anterior, pode ter certeza que ele era mais estiloso (além de ter uma música-tema arrepiante e inesquecível).
O PSX ainda viu o lançamento de mais sequências da série, como Final Fantasy VIII, com gráficos ainda superiores ao anterior, num ambiente mais estudantil; Final Fantasy IX, reunindo elementos de toda a série, numa homenagem à mesma; e Final Fantasy Tactics, o primeiro a reunir elementos táticos ao estilo de RPG, numa trama que envolvia temas mais adultos e profundos, como política e religião.
Enquanto isso, o sucesso da série fez com que ela saísse da tela dos games e partisse para as telas do cinema. Numa produção multimilionária, a Square produziu, em 2001, o filme Final Fantasy: The Spirits Within, todo feito em computação gráfica. Todavia, com altos custos de produção e uma fraca audiência, o filme trouxe grandes perdas financeiras para a Square e foi considerado um enorme fracasso.
No PS2, a série chegou, enfim, ao seu décimo jogo. Com gráficos inteiramente em 3D, Final Fantasy X foi o primeiro a ter atuação de voz, além de ser o primeiro a gerar uma sequência direta: Final Fantasy X-2. A ousadia maior, no entanto, viria no jogo seguinte. Lançado para o PC, Final Fantasy XI foi o primeiro MMORPG (massively multiplayer online RPG) da série, diferente de todos os anteriores. Longe de ser o mais popular, acabou sendo, mesmo assim, o mais lucrativo. A série só voltaria ao PS2 com Final Fantasy XII, desta vez sem Hironobu Sakaguchi no comando, que deixou a Square para fundar sua própria empresa, e depois da fusão com a Enix, sua antiga rival, criando a Square-Enix. Num projeto ambicioso, o jogo buscou abolir o sistema de turnos nas batalhas, ensejando uma aproximação aos RPGs de estilo ocidental:
Nesta geração de consoles, a Square-Enix abandona de vez a exclusividade de consoles e lança Final Fantasy XIII, em 2009, para ambos o PS3 e o Xbox 360. Com a ambição de que Final Fantasy não fosse mais apenas um RPG, mas um jogo com estilo próprio, as mudanças não agradaram muitos os fãs mais tradicionais. Apesar do sistema de batalhas inovador, a trama linear demais gerou algumas críticas, o que não impediu o lançamento de uma sequência (Final Fantasy XIII-2) e o anúncio de outra (Lightning Returns: Final Fantasy XIII).
Mesmo assim, nenhum Final Fantasy foi tão criticado quanto Final Fantasy XIV. Lançado em 2010 para o PC e retornando ao estilo MMORPG de Final Fantasy XI, o jogo recebeu fortes críticas de todos os lados, tornando-se o primeiro grande fracasso de toda a série principal e forçando a Square-Enix a trabalhar numa versão melhorada do jogo para poder consertar os erros de produção, com relançamento previsto para 2013.
Este, é claro, é apenas um rápido panorama da série principal e está longe de cobrir todos os jogos da franquia. De fato, já foram lançados mais de 50 jogos com o nome Final Fantasy, indo além dos RPGs e passando por diversos gêneros, como estratégia, ação, luta, MMO, tiro, etc. Mais do que isso, se contar todos os relançamentos, remakes e coleções, o número de jogos passa de 100. Seu estrondoso sucesso ultrapassou até as barreiras dos games e gerou livros, mangás, animes, filmes, bandas e orquestras de música, e até radionovelas (?!), sem falar em brinquedos, bonecos, action figures, colares, pingentes, braceletes, entre outros tantos tipos de acessórios e tranqueiras possíveis.
De qualquer forma, Final Fantasy completa agora 25 anos num momento crítico. Seu último jogo foi um grande fracasso e os fãs temem pelo futuro da série. O que esperar? É difícil dizer. A Square-Enix não parece ouvir os seus fãs, o que é arriscado. Embora haja uma grande expectativa por um remake de Final Fantasy VII, a empresa japonesa, por enquanto, descarta a possibilidade, tendo seu presidente relatado que apenas consideraria a ideia quando eles lançassem um Final Fantasy que fizesse mais sucesso (ou seja, nunca?). E em vez de seguirem em frente e tentarem lançar um Final Fantasy XV que volte a agradar os fãs, eles trabalham em duas sequências para um jogo que, se não foi péssimo, pelo menos está muito longe de ser o melhor da série.
Deste jeito, é difícil dizer se Final Fantasy terá fôlego para mais 25 anos, para não dizer mais 10. O momento é de reflexão, mas se não dá para prever o futuro, ao menos é possível celebrar o passado com esta pequena homenagem. Pequena, pois seria necessário muito mais para fazer justiça a uma série tão grandiosa, que influenciou não só outros RPGs, mas também a indústria de games (para não dizer de entretenimento) como um todo.
Acima de tudo, Final Fantasy encantou toda uma geração, fazendo com que pudéssemos sonhar acordados em um universo onde a fronteira entre a fantasia e a realidade parecia se perder, e que o final… bem, quem disse que precisa ter um final, não é mesmo?
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