Nascer, viver, lutar, morrer, e então renascer. Se para muitos isso é um ciclo de vida baseado em religiões ou suas convicções, em Toren é o prefácio do tão esperado projeto da Swordtales, estúdio brasileiro de games que vem trabalhando há quatro anos. E dizer tão esperado vale mais da experiência de quem acompanha a saga do jogo – não só da história por trás de Toren, mas também de sua criação. O título é de muita importância para o desenvolvimento nacional de jogos por ser um dos primeiros a receber incentivo graças a Lei Rouanet. Vale lembrar (e avisar os desinformados) que não se trata de dinheiro do governo, mas em um incentivo fiscal que a lei proporciona através de redução tributária de empresas.
Toren conta a história de uma torre (com o mesmo nome) e de sua principal habitante, Moonchild, em sua quase-eterna luta contra um dragão. No começo do jogo vemos a personagem mais adulta, mostrando força e imponência ao enfrentar o inimigo, mas falha em sua jornada. Dando início ao jogo fica evidente que o ciclo é sempre o mesmo: você começa a jogar com sua forma bebê, andando no interior de Toren, até então “crescer”. Um misto de Torre de Babel com a jornada do herói envolto a mitos, ela é o papel principal de uma profecia que decide todo o futuro da humanidade, que por ser ambiciosa quis alcançar as estrelas. O Sol, como castigo, decide esconder a Lua dos homens. Se o dragão que guarda Toren é a personificação de todo o mal, Moonchild é a esperança desse mundo.
Com um visual incrível que ora se compara com Shadow of the Colossus, ora com The Legend of Zelda em seus últimos títulos lançados, Toren te leva a um universo diferente e livre de dimensões. Não estranhe se você achar que o interior da torre é pequeno em sua base: isso tudo faz parte do crescimento da personagem e também dos inúmeros puzzles encontrados no decorrer do jogo – talvez aí a principal semelhança com os jogos da série Zelda. Tudo embalado em uma trilha sonora muito bem composta e que envolve o jogador neste mundo novo, pronto para ser explorado enquanto Moonchild busca caminhos até o topo de Toren, seja através de escadas ou da árvore da vida que cresce cada vez mais até o topo da torre, talvez a principal ligação com sua jornada.
O ambiente é ainda mais explorado nos sonhos de Moonchild ao ser guiada pelo Mago que ensina e explica um pouco da história por trás da profecia em forma de poesia – talvez um dos momentos mas interessantes do jogo. A viagem por esse ambiente explica e mostra o que há por trás de conceitos (ou seriam sentimentos?) como justiça, desejo e abismo, entre outros, possibilitando que Moonchild percorra o caminho do cavaleiro e que você entenda um pouco mais sobre a história.
Mas não é apenas de beleza que o jogo se apoia. Toren tem uma jogabilidade bem simples, mas falha em diversos outros aspectos. O primeiro aviso do jogo é o mais importante: o uso de um controle (caso você jogue a versão para PC) é quase crucial para a experiência. Não que seja impossível jogar com teclado e mouse, mas a escolha se transforma em um verdadeiro desafio – tente jogar sal nos símbolos dos sonhos e você entenderá. Por mais bonito que o jogo seja, em muitos momentos alguns detalhes podem incomodar, como a movimentação da personagem, a forma como pula e principalmente como resolver alguns dos vários desafios. A câmera do jogo na maioria das vezes também pode atrapalhar – só depois de muito tempo consegui descobrir o que deveria fazer quando, sem querer, a personagem passou por uma abertura na parede.
Talvez o principal problema de Toren, para não dizer nossas próprias exigências, é que dá a impressão que falta algo mais. Não em sua curta duração – é possível completar o jogo em pouco mais de 3 horas – ou na qualidade técnica e visual, que apresenta diversas falhas, mas no que poderia de fato oferecer aos jogadores. Moonchild não faz muito no jogo, a não ser escalar e fazer outros movimentos. Sequer tem grandes desafios, a não ser o dragão negro com seu sopro petrificante e as pequenas criaturas que com um simples golpe de espada explodem com facilidade. Nem mesmo causa dano à personagem. Solucionar alguns quebra-cabeças nos cenários não é uma tarefa difícil, e fica evidente o que deve ser feito, sem muitas explicações – assim como a própria história por trás do jogo.
Toren pode não ser o grande jogo que esperávamos, mas cumpre um papel importante no cenário brasileiro de jogos: mostra que é possível o financiamento para projetos se tornarem grandiosos. Sendo o primeiro título da Swordtales é um trabalho louvável que merece o nosso respeito. A humanidade retratada em Toren foi ambiciosa demais, e talvez o seu desenvolvimento também. A nossa expectativa mais ainda.