Estava dormindo quando escuto minha filha Alice me chamar. Abrindo os olhos ela estava de pé ao meu lado, andando normalmente como se fosse uma adulta. Ela estende a mão e me chama para acompanhá-la, levanto da cama, seguro sua mão e a acompanho. Alice me levou até a sala, estava bem escuro quase que não enxergava nada. Foi aí que prestei atenção mais a frente no chão da cozinha havia um buraco… não um buraco, mas um precipício onde haviam várias outras crianças e bebês chorando sendo derretidos em lava. Neste momento senti meus joelhos perderem a resistência e começaram a bambear foi quando percebi uma coisa: minha filha ainda não sabe falar, muito menos andar e posso dizer que um bebê de 1 ano andando como um adulto é muito assustador. Parei por alguns segundos e percebi que aquele inferno que eu estava era um pesadelo. Mandei a Alice ir dormir, ela andou normalmente reclamando com uma voz grossa da minha ordem e foi aí que acordei deste pesadelo com a cama toda molhada de suor.
Para quem não sabe, este tipo de pesadelo é bem corriqueiro entre os pais de primeira viagem, e no caso da mulher é comum ter o baby blues, mais conhecido por nós como melancolia pós-parto, algo bem comum já que os hormônios da mulher ficam totalmente desregulados – mas não deve ser confundido com a depressão pós-parto, que é muito complicado e muito mais sinistro. Não vou entrar em detalhes, mas é justamente com essa premissa que o jogo Baby Blues sabe exatamente como amedrontar os pais que já passaram por isso… e também aos quem não são pais.
Baby Blues é um jogo indie desenvolvido pela Kumi Games e distribuído gratuitamente pelo site Desura, lançado em Janeiro de 2013 para a PCs, e te apresenta um enredo simples onde você joga na pele de um garotinho de cinco anos chamado Tommy, que acorda de madrugada e se vê sem seu ursinho de pelúcia. Como toda criança curiosa, levanta da sua cama e vai procurá-lo pela casa. Só que o problema é que a casa tem espíritos zombeteiros e poltergeists pra todo lado, e os pais do garoto não estão em casa.
O jogo é um survival horror em primeira pessoa com a missão de encontrar nove ursos de pelúcia e algumas chaves para abrir as portas da casa tendo auxílio de um mapa – se você pensou neste momento em Slender, acertou em cheio. Até onde sei todo mundo fica com muito mais medo quando é adicionadas crianças no gênero terror, então junte essa combinação à escuridão que lembre Doom 3 e terá momentos em que encontrar ursinhos por pura sorte em alguns locais é uma dádiva.
A visão do jogo é muito interessante, pois onde tudo é muito grande e distante o ângulo da câmera fica inclinada, bem diferente do tradicional visto em diversos first person shooters. Como falei acima, o enredo é muito simples como todos os games deste gênero, e basta concluir sua missão de pegar os nove ursinhos de pelúcia para voltar ao seu quarto que tudo fica bem e assim o game é finalizado. A graça é que não é tão simples assim, pois com os sustos e a dificuldade de encontrar os ursinhos você leva um bom tempo explorando o cenário para concluir a sua ‘missão’.
Os gráficos de Baby Blues, vindo de algo criado do zero, são bem bacanas e junto à trilha sonora e demais efeitos dá um ar bem sombrio ao jogo, combinando com os momentos assustadores e dando mais temor do que as própria aparições a enfrentar. Por falar em aparições, o ponto negativo são justamente para elas, que parecem de papel e de terem sido recortadas e coladas no cenário num 2D bem chinfrim – claro que não poderia deixar de comentar sobre uma aparição bem nos moldes das apresentações de Power Point dos anos 2000 que me assustou pacas. Não tem nada a ver, é muito mal explorada e muito forçada, mesmo com os poltergeists compensando tudo isso. Outro fator a ser lembrado é que os ursos de pelúcia não aparecem randomicamente no cenário, fazendo com que o fator replay do jogo é praticamente nulo.
No geral, se você quer uma diversão gratuita, rápida e que te dê bons sustos, jogue Baby Blues tranquilamente. Depois que você terminá-lo, aproveite e chame um amigo (ou quem sabe sua esposa/ seu marido, assim aumenta o fator replay e aproveita pra rir de seus sustos). Já que como não muda nada, talvez a graça real do jogo seria mesmo gravar quem está jogando e seus sustos e ter um ótimo fator replay. Simples e divertido, mas a idéia poderia ser mais explorada.
Trailer do jogo Baby Blues: