A Editora Aleph se consolidou no mercado e no coração dos nerds brasileiros após repaginar totalmente sua identidade e se tornar a primeira editora especializada em ficção científica do país, fazendo um trabalho intenso com a fanbase do estilo e publicando tanto clássicos quanto lançamentos com boa repercussão lá fora. Com esse olhar clínico para pinçar as melhores novidades em sci-fi e apresentá-las ao público brasileiro que a editora lança Guerra do Velho (Old Man’s War, 2005), ficção científica militar de John Scalzi indicada ao Hugo Award na categoria Melhor Romance em 2006. 

Mesmo para quem não é muito fã de sci-fi militar as 368 páginas do livro passam em um instante. A tradução de Petê Rissatti é fluída e mantém o estilo informal de Scalzi, com um texto rápido e direto, sem grandes floreios. Em Guerra do Velho acompanhamos John Perry, um senhor que ao fazer 75 anos decide se alistar nas misteriosas Forças Coloniais de Defesa (FCD), uma entidade que protege a Terra e suas colônias espaciais contra raças alienígenas predatórias e sanguinárias.

Na Terra não se sabe quase nada a respeito das FCDs, apenas que elas aceitam alistamento de terráqueos assim que completam 75 anos e que uma vez fora do planeta é impossível retornar, devido à leis de quarentena adotadas após uma contaminação que causou uma epidemia global de esterilidade. Sentindo falta da esposa falecida e sem grandes ligações afetivas com seu planeta natal, John parte em uma jornada, motivado em parte pela curiosidade e em parte pelo medo de morrer, já que as FCDs teriam acesso a procedimentos médicos desconhecidos na Terra que aumentariam a longevidade de seus recrutas.

A partir daí somos apresentados em ritmo acelerado aos grandes segredos das FCDs: afinal, como eles conseguem manter um exército de septuagenários aptos para o combate? Quem são essas raças alienígenas mortais e o que elas querem com a gente? John Perry faz amigos no exército, que carinhosamente se chamam de “Velharias” e tenta sobreviver em um ambiente totalmente hostil e desconhecido, onde seu bem mais precioso cultivado na Terra, a experiência, vale pouco ou nada.

A caracterização dos personagens é superficial e um pouco negligenciada em relação à apresentação do cenário, problema que acho compreensível por esse livro ser o primeiro de uma trilogia e visar principalmente ambientar o leitor. Acredito que nos dois próximos volumes Scalzi desenvolve melhor tanto John quanto alguns temas que ele apenas pincela em Guerra do Velho, como a crítica ao colonialismo brutal e a reflexão sobre a efemeridade da vida.

Eu que sou mais acostumada a sci-fis mais filosóficos e lentos senti falta desse tipo de aprofundamento de personagens e temas, mas gostei muito da narrativa de ação e da pegada irônica de Scalzi, que mesmo com a já mencionada superficialidade dos personagens consegue caracterizar alguns estereótipos reconhecíveis e arrancar sorrisos com seus comentários espertos sobre tipos do cotidiano. Se você é um leitor que curte uma boa e velha guerra de alienígenas, vai amar as batalhas sangrentas e as raças grotescas que o livro apresenta. Se a reflexão deixa um pouco a desejar, a porrada é de qualidade inquestionável.

E para o final a menção honrosa: a Aleph não coloca capa feia no mercado, mas essa está particularmente destruidora. O ilustrador é ninguém menos que Sparth, que assina a arte dos games Halo 4, Assassin’s Creed, Prince of Persia Alone in the Dark 4. Com um currículo desses só poderíamos ter ganhado a cena de batalha lindíssima que ilustra essa edição.  Aleph, já falei que te amo hoje?