A cronista Allana de Lene, em meios às baladas do trovador Jaskier, às anotações da poetisa Essin e os relatos de camponeses que alegam ter sido salvos pelo Bruxo, prossegue com seus relatos, a respeito da história de Geralt de Rívia.
Continuando com as resenhas dos livros da série de fantasia The Witcher, falemos agora do segundo volume, A Espada do Destino. Ainda em formato de contos, Andrzej Sapkowski continua contando “casos” de seu estoico protagonista Geralt.
Se O Último Desejo traz contos que são mais separados entre si, A espada do destino mostra ao leitor histórias que ainda podem ser lidas em separado, mas que já fazem menções internas e às narrativas do primeiro livro, estabelecendo as bases para os romances posteriores. Novos personagens são apresentados, a situação política dos reinos é pincelada em alguns momentos, estabelecendo o cenário e deixando-o menos impessoal.
A impressão é que Sapkowski, no primeiro livro da série, estava “testando águas”. Percebendo as dinâmicas entre os personagens, estudando seu cenário, pensando se aquilo tudo funcionaria bem se colocado junto. No segundo livro, tanto as tramas estão claramente interligadas quanto a política e a economia do mundo é melhor trabalhada. Jogadores dos games reconhecerão personagens, como o doppler Dudu, e algumas tramas que são muito bem adaptadas para os jogos do bruxo.
O limite do possível, que explica seu título de maneira até didática, conta a história de uma caçada a um dragão, que ataca um vilarejo e passa a ser cobiçado por diferentes grupos. Aqui, vários interesses são representados – políticos, econômicos, e até místicos. Um fragmento de gelo desenvolve a relação atribulada entre Yennifer e Geralt, enquanto eles estão passando uma temporada em uma cidade cuja história é cercada por uma antiga lenda élfica.
O fogo eterno encontra Geralt de passagem em Novigrad, onde tropeça em Jaskier e conhece Dudu, e, de maneira muito divertida, dá uma aula bem didática de como funciona a economia em uma metrópole da fantasia. Um pequeno sacrifício é uma das histórias mais tristes do livro (e uma das minhas preferidas), e mais uma das que fazem referências a contos de fada. Geralt e Jaskier encontram Essin, uma poetisa itinerantes, ao passo em que o bruxo precisa lidar com uma ameaça que se levanta do desconhecido oceano.
A espada do destino, conto que intitula o livro, se passa na floresta de Brokilon, onde Geralt, incumbido de levar uma mensagem à líder das dríades que governa a região, conhece a pequena Cirilla e o leitor é apresentado a vários costumes das fadas do cenário, em uma história que dialoga com as explorações colonizadoras do nosso mundo. Algo mais finaliza os contos, interligando-os e revelando um pouco mais sobre o passado misterioso de Geralt. Além disso, o texto lança pistas para a trama dos romances seguintes, e deixa bem claro que o Destino, uma vez traçado, é algo do qual não se pode fugir.
O estilo de escrita de Sapkowski se mantém estável entre um livro e outro: sem se deter em arroubos descritivos, mas fornecendo informações coloridas o bastante para seu leitor. A ação é rápída, suja e por vezes cruel, sem floreios. Se há algo que possa ser questionado é que quase todos os personagens são extremamente verborrágicos e rebuscados, detendo-se em explicações que soam mais familiares à biologia e à política moderna. Se isso não chegava a ser um problema no primeiro livro, nesse aqui pode incomodar.
A espada do destino é um segundo volume que consegue ser ainda melhor que o primeiro, mais embasado e amarrado. Com os personagens mais “testados” e amadurecidos narrativamente, Andrzej Sapkowski parece mais à vontade para ousar nos enredos e colocá-los em situações mais diferentes e inusitadas, deixando-os mais redondos e tridimensionais.