O clima esquentou ainda mais (não o calor do Anhembi, porque isso seria impossível) hoje no palco Stadium da Campus Party Brasil 2014. O debate “Vida após o Jogo Justo: o que Moacyr fez pelo mercado de games” colocou o fundador do projeto Jogo Justo Moacyr Alves Jr. frente a frente com os jornalistas Gus Lanzetta e Heitor de Paola do Lektronik, Caio Teixeira do Arena iG, Evandro de Freitas do 99vidas,  e Arthur Zeferino e Marcellus Vinícius, do GAMESFODA.

Pelo desenvolvimento do debate, a resposta da pergunta que nomeou a conversa é simples: nada. Moacyr começou afirmando que está com uma postura mais amigável em relação aos jornalistas porque “nós temos que nos unir para derrotar nosso inimigo comum, que é o governo”. Foi imediatamente respondido por Caio Teixeira, que lembrou que a imprensa não tem inimigos, apenas informa o que acontece.

Daí em diante Moacyr não conseguiu emplacar nenhum argumento em defesa do Jogo Justo. Culpou repetidas vezes a atual ministra da Cultura Marta Suplicy, por ter parado os projetos que ele teria aprovado previamente com a antiga ministra Ana de Hollanda. Acabou sendo lembrado que era o seu papel era intervir junto ao governo, não dos jornalistas.

Ao ser questionado por Heitor de Paola sobre qual seria o papel do projeto atualmente, Moacyr contou uma longa história de sua saga para conseguir as promoções, reclamou das piadinhas, elogiou o ex parceiro Marcos Khalil, fundador da rede UZ Games… mas não respondeu de maneira satisfatória a pergunta.

Repetidamente, Moacyr tentou convencer os debatedores que o Jogo Justo foi relevante no fornecimento de dados que informaram às grandes distribuidoras do potencial do mercado nacional. Porém Gus lembrou que as empresas já têm esses dados: “As publishers têm os números, elas lidam diretamente com o varejo. Não foi o Jogo Justo que fez elas perceberem que o mercado cresceu, elas notaram isso porque começaram a vender mais” afirmou. Marcellus complementou: “A cultura do videogame aqui sempre foi grande. O crescimento do mercado era um processo natural que aconteceu independente do Jogo Justo”.

Outro ponto levantado que pesou contra a defesa do Jogo Justo foi o fato de o preço dos games terem caído sem a necessidade da diminuição de impostos, quando as grandes empresas começaram a investir em produção nacional.

Gus foi enfático: “Grandes empresas começaram a produzir no Brasil, gerando empregos e diminuindo os preços sem queda nos impostos. Baixar impostos só é interessante para quem importa jogos”. Moacyr defendeu-se afirmando que seria impossível o Brasil dar conta de toda a demanda nacional, que é muito alta, mas se enrolou quando Caio perguntou se a resposta então seria importar tudo, afirmando que a resposta é a produção nacional.

Foi nesse ponto que Moacyr pareceu admitir, ele mesmo, que acabou não tendo relevância no mercado brasileiro de jogos. “Pelo menos eu tentei. O problema é que o pintinho virou o Godzilla”.

Mais para o final do debate, o questionamento foi que, já que Moacyr alega falta de colaboração do governo, porque não tentar diminuir a enorme margem de lucro dos varejistas brasileiros que chega a 30%, muito maior que no mercado americano. Por ser o presidente da Associação Comercial, Industrial dos Jogos Eletrônicos do Brasil e estar em contato direto com os varejistas, seria mais simples. Moacyr foi evasivo, alegando que o mercado brasileiro não tem um volume comparável ao dos EUA, mas não apresentou o motivo da permanência dos preços mesmo com o aumento do volume de vendas.

Por fim, tentou mais uma vez apelar para um suposto inimigo comum: “A gente tem uma paixão em comum: os games. Vamos nos unir em prol disso, se ficarmos discutindo as coisas a gente não chega a lugar nenhum”. Mas não sustentou essa “paixão em comum” quando questionado por Caio Teixeira se falava ao governo como entusiasta de games ou como presidente de uma associação comercial. “Como presidente da ACIGAMES”, afirmou. “Isso então explica tudo” retrucou Caio.