Como trabalhar com jornalismo em um meio onde a informação muitas vezes chega ao público antes de chegar aos jornalistas? Essa foi a principal discussão do debate “20 anos de Jornalismo de Games: Quais são os desafios dos profissionais de hoje?”

Os jornalistas Pablo Miyazawa, que já passou pela Nintendo World, Herói e EGM Brasil e atualmente é editor-chefe da revista Rolling Stone Brasil; Pedro Zambarda, colunista de games do TechTudo; João Coscelli, do blog Modo Arcade no Link; e Théo Azevedo, editor do UOL Jogos estiveram hoje no palco Stadium conversando sobre o futuro e o passado do jornalismo de games no Brasil e respondendo as dúvidas dos campuseiros presentes.

Logo no início do debate Pablo Miyazawa comentou sobre sua experiência ano passado, em que não foi a E3. “Decidi fazer o que as pessoas fazem: assistir as coletivas na internet e criticar no Twitter. Descobri que é muito divertido! Por isso que as pessoas gostam tanto.” Théo Azevedo acrescentou que estar na E3 atualmente é uma experiência muito interessante porque muitas vezes o repórter que está no evento sabe menos do que o público que acompanha as postagens de casa. “O jornalista tem que correr atrás para saber o que está acontecendo, enquanto o público já está recebendo conteúdo em tempo real de muitas fontes disponíveis”.

Durante boa parte da conversa os jornalistas falaram sobre como lidar com esse cenário, em que a imprensa compete com conteúdo gerado por internautas. “Videogame é imagem, é som, é ver o jogo em ação. O que vocês preferem: ver o jogo no YouTube ou esperar um mês para ler sobre em uma revista? A internet enxugou o nicho de revistas. A melhor qualidade da imprensa de games para mim está na internet, porque ela reúne tudo e sabe que o leitor vai procurar lá” afirmou João Coscelli.

Entre os caminhos apontados para esse novo jornalismo, foi citada a importância da reportagem e do trabalho com as fontes. “Quando você conversa com a fonte, você enxerga além da informação que procura, você pode ver uma pauta que vive naquela pessoa” afirmou Pedro Zambarda. João destacou que alguns veículos internacionais, como a tradicional revista Game Informer, conseguiram continuar relevantes através de furos e pautas exclusivas.

Théo concordou, acrescentando que essas publicações muitas vezes dispõem de uma exclusividade de informações que dificilmente ocorre no mercado nacional. ” Ainda é possível ser um bom repórter, ainda é possível conseguir certos furos. É importante fazer networking, cultivar boas fontes. A internet criou essa cultura do jornalista de redação, que não sai” afirmou. Ele também destacou que a imprensa, ao contrário do internauta anônimo que gera conteúdo nas redes sociais, vai ser responsabilizada se publicar boatos que não se concretizarem.

Pedro mostrou-se otimista com a internet. O jornalista lembrou que com a diversidade de fontes que a rede gerou, ele consegue ter contato com desenvolvedores menores e sustentar uma coluna semanal focada inteiramente na produção brasileira de games.  João concordou: “O mercado quando começa a crescer, leva tudo junto. É muito provável que as pessoas comecem a dar mais importância pros games, e as pessoas comecem a ver a área com mais seriedade. As pessoas vão perceber que isso é importante, o jornalismo de games vai ganhar importância, e eu acho que isso vai melhorar.”

Sobre o conteúdo gerado pelos próprios gamers, Pablo disse admirar os youtubers que falam de games. “Por que os youtubers fazem tanto sucesso? Porque eles são únicos: você encontra naquele canal opiniões que são deles, que não estão em outros lugares. E eles tem características de carisma que atingem um público que tinha carência de algo mais pessoal. Eu aplaudo os youtubbers. Se eu tivesse 1% do carisma que esses caras têm para atrair os leitores e tocar o coração das pessoas, eu adoraria tentar” afirmou.

Outro caminho apontado pelos debatedores foi um jornalismo mais analítico, que conquiste o leitor oferecendo algo além da informação por si só. “Acho que o papel do jornalismo hoje em dia é muito mais analítico que informativo. É informar e ir além disso, usar sua experência e expertisse para oferecer algo mais para o seu leitor” afirmou João.

Théo ainda acrescentou que o jornalismo tem como possibilidade se aproximar do entretenimento e cativar novos públicos. “O que os youtubbers fazem é jornalismo? Pouco importa, é geração de conteúdo, está trazendo leitores. É como entrar na discussão do popular versus erudito: pouco importa. Jogos fazem parte da vida das pessoas. Acho que o nosso papel é informar com crítica, mas ainda levar coisa divertida para o leitor também” afirmou.

Quando questionados sobre o futuro do jornalismo de games, Pablo afirmou que ele tende a cada vez mais ter o mesmo espaço que o jornalismo voltado para outros temas. “A gente chegou num ponto em que games é um assunto interessante a todos. Podemos tirar um pouco esse rótulo de jornalista de gamers, porque jornalismo é jornalismo, e as pessoas já não se definem pelo que elas gostam de fazer.” E depois brincou: “Eu e o Théo, nós vamos virar youtubers. Faremos um canal falando de como as coisas eram melhores antes, como era legal jogar Nintendinho, que esse negócio de League of Legends que vocês gostam não está com nada”.

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