Ler é minha atividade preferida desde que aprendi a juntar as letras. É simples, pode ser feito em qualquer lugar, e tem tantos e tantos livros publicados e sendo escritos todos os dias que provavelmente nunca vai ficar chato.

Na infância e adolescência, quando tinha mais tempo livre, costumava ler um livro inteiro a cada dois ou três dias. Em alguns anos li todos os exemplares da coleção dos meus pais (e eles têm muitos livros mesmo) e comecei a atormentar os bibliotecários da escola em que estudava para que liberassem os livros considerados inapropriados para minha idade, pois já tinha lido todos os outros.

Foi mais ou menos nessa época que descobri as delícias da pirataria online de pdfs, que me permitiu ler todos os títulos da Anne Rice que os funcionários da escola teimavam em esconder de mim, e acumular pastas e pastas no meu HD. Com o tempo pude comprar meus próprios livros mais rápido do que conseguia lê-los, mas mesmo assim o hábito de baixar muito material pirata, apenas pelo prazer acumulador, persistia.

Eu não sou uma pessoa contra a pirataria: acredito na livre circulação de informação e cultura, sou signatária para a regularização do Partido Pirata no Brasil e sempre defendi o uso de softwares livres e o acesso à tecnologia. Por outro lado, me aproximei recentemente da cena de escritores e quadrinistas independentes através de grupos de cultura pop que acompanho nas redes sociais, e passei a refletir mais sobre o impacto devastador da pirataria nos pequenos produtores.

Além do escritor independente, o mercado editorial brasileiro está em um momento complicado, que pode comprometer a publicação de livros que desejo muito, e prejudicar editoras de nicho que fazem um trabalho bem interessante com o fandom, como a Aleph e a Darkside Books. Dá para entender os gastos que envolvem a publicação e divulgação de livros lendo o post abaixo, sobre a polêmica com a hashtag #valorizeobooktube.

Booktubers,

Tenho acompanhado com interesse o #valorizeobooktube

Não vou considerar aqui as editoras sem noção que os…

Publicado por Daniel Lameira em Sábado, 30 de julho de 2016

Pensando nisso e notando que não pirateio música há pelo menos 3 anos, quando comecei a adotar o streaming e a comprar pontualmente alguns lançamentos preferidos no iTunes, resolvi abolir a pirataria de livros da minha vida. No momento eu não baixo nenhum livro de forma ilegal há quase um ano, e no processo descobri várias alternativas muito baratas para quem curte ler e não quer falir.

E-readers e Kindle Unlimited

Eu amo e-readers porque além de permitir que eu consiga livros mais baratos do que os impressos, eles ajudam a liberar espaço em casa e permitem que eu leia no transporte público livros que em versão impressa seriam grandes e pesados demais para carregar na bolsa (atribuo ao meu Kobo meu vício n’As Crônicas de Gelo e Fogo).

Meu primeiro e-reader foi o Kobo Touch, que eu escolhi por ele ter como formato padrão o epub, que é aberto (lembrem-se que sou uma signatária do Partido Pirata que ama Libre Office). Fiquei um bom tempo apenas com ele e já valeu muito a pena porque além dos e-books serem mais baratos em média, eu gosto muito de livros sobre comunicação que ainda não saíram no Brasil. Ter um e-reader me poupou da espera pela importação dos livros, além de ser significativamente mais barato e menos estressante: eu escolho, pago e já posso começar a ler em poucos minutos.

Adquiri o hábito de checar pelo menos uma vez por semana as recomendações do Kobo para mim e quase sempre acho alguma coisa interessante por menos de 10 reais. Ele possui um grande acervo de livros clássicos a preços bem baixos: consegui, por exemplo, comprar a obra completa de Lovecraft em inglês por R$ 4,99.

Depois de um tempo resolvi comprar um Kindle também, pensando em alguns títulos que são exclusivos na Amazon, e também em outros que são significativamente mais baratos. Foi aí que tive acesso ao maravilhoso serviço do Kindle Unlimited: por R$ 19,90 por mês libera o acesso a um amplo catálogo de livros digitais, e posso ter em meu Kindle até 10 deles simultaneamente. É como uma Netflix dos livros.

Compensou muito para mim por ter vários livros que queria ler há algum tempo e estavam na minha lista de compras. O catálogo é amplo e para quem lê muito, vale a pena: o preço da mensalidade é menor que o de um único título.

Pacotes e assinaturas

Outra vantagem que ter um e-reader me deu em termos de economia na hora de adquirir livros sem pirataria foi a opção de comprar pacotes de livros digitais. Eles funcionam num esquema de valor mínimo (geralmente bem baixo, como 1 dólar ou real) e você paga quanto quiser. Geralmente tem um valor intermediário que garante alguns livros bônus, mas mesmo optando por pagar um pouco mais sai MUITO BARATO.

Eu sou fã e sempre compro do Story Bundle: rolam pacotes temáticos (já teve de livros sobre videogames, sci-fi, fantasia, steampunk…) e a curadoria é sempre muito boa. Os livros vêm em epub, mobi (formato do Kindle) e algumas vezes em pdf.

E temos uma opção muito boa em português, o Pacotão Literário. A partir do enorme investimento de UM REAL você leva uma coletânea de qualidade com autores nacionais e independentes. Como no Story Bundle, o pagamento libera downloads em epub, mobi e pdf. Na edição desse mês, a partir de R$ 42,00 garante um livro físico também.

Para quem não abre mão do cheirinho de papel, gosta de ter livro novo mas quer os famosos limites na hora de sair esvaziando a carteira na livraria, um serviço de assinaturas pode ser interessante. Eu ainda não testei essas alternativas porque estou quase sendo soterrada por tudo que ainda tenho para ler em casa,  mas serviços como o TAG e o Turista Literário cobram R$ 69,00 mensalmente para enviar um livro e um kit temático sobre ele todos os meses para sua casa. O Turista Literário é totalmente focado em literatura Young Adult, e o TAG aposta na curadoria de especialistas.

Além dos boxes de assinaturas, é fácil encontrar clubes do livro com diversos perfis em uma busca rápida no Google. Muitos funcionam com o modelo de assinaturas e nichos temáticos.

Empréstimos e trocas

Eu sou extremamente ciumenta com meus livros e só os empresto para amigos realmente próximos, mas consegui criar uma rede segura de troca de livros entre pessoas de confiança, que é bem útil.

Se você não tem amiguinhos com que trocar livros e é uma pessoa mais desapegada e espiritualmente elevada que eu, existem sites que fazem o serviço, como o Livra Livros. Nele, cada livro doado é revertido em um ponto que pode ser usado para “comprar” outro. Rápido e prático.

Para fazer trocas presencialmente, procure se informar se informar sobre feirinhas, reuniões de leitores e pontos de troca em sua cidade. Bibliotecas públicas algumas vezes disponibilizam caixas que tanto recolhem quanto disponibilizam para doação títulos repetidos ou antigos. Já consegui vários livros legais assim.

Valorize autores independentes e editoras de nicho

Comprar direto do autor sempre sai mais barato, tem autógrafo e a satisfação de acompanhar o trabalho de alguém mais próximo a você. Vejo muitos fãs de literatura reclamarem da mesmice de certos gêneros, mas não buscarem nada fora do catálogo das grandes editoras.

Eu desenvolvi uma relação diferente com meus livros quando comecei a acompanhar editoras focadas em meus gêneros preferidos. Passei a frequentar eventos, fiz contato com autores e tradutores e, eventualmente, comprei livros. Sempre foi positivo e me senti fazendo algo significativo pela literatura que amo.

Acompanhe autores, procure grupos e páginas de autores nas redes sociais e se permita ler coisas diferentes. Além da economia, isso só ajuda o mercado a se diversificar e ficar cada vez melhor.

E como está a vida pós torrent?

Não senti falta dos downloads ilegais, porque como falei, eles aconteciam muito mais por impulso acumulador do que por falta do que ler em casa. Estou focando em ler o que já tenho e isso vai levar um bom tempo ainda.

O mais positivo foi me aproximar do universo das publicações independentes. Tem livro gratuito, blogs incríveis e newsletters super legais. O conteúdo que conseguia com pirataria não fez nenhuma falta.

O único fator complicador ainda é conseguir livros e artigos acadêmicos: muitas vezes a pirataria é a única maneira de ter acesso a materiais importantes publicados em revistas que cobram uma assinatura altíssima. Tenho tentado contornar usando fontes alternativas, mas realmente a livre circulação de conhecimento acadêmico precisa ser debatida com urgência, já que o atual modelo é bem elitista e limitador.

Espero que modelos como o Kindle Unlimited sejam mais comuns em breve, porque Netflix e Spotify provam que dão certo. Resta aí saber se é interessante para autores e editoras também.