A primeira vez que joguei o primeiro Tomb Raider em meados de 1996, foi amor à primeira vista. Não por Lara Croft ser uma personagem feminina com grandes atributos distribuídos em cerca de 60 polígonos, mas pelo o que sempre foi e representou em minha jornada nos games desde criança: um jogo bem feito, jogabilidade interessante, gráficos incríveis – mesmo lá nos anos 90 quando um jogo em 3D era uma evolução absurda – e o sentimento de aventura de seus jogos. Lara sempre foi uma heroína destemida e conforme evoluía, seus jogos se tornaram cada vez mais fracos – seu último título, Lara Croft And The Guardian of Light, mesmo sendo um jogo interessante deixou a desejar para muitos fãs. E justamente por isso que Tomb Raider, a tentativa de um ‘reboot’ da série desenvolvida pela Crystal Dinamics e da Square Enix para PCs, Playstation 3 e Xbox 360, apareceu chamando atenção, mas ainda incomodava os fãs.
Mas diferente do que era esperado, Tomb Raider veio com tudo ao trazer uma origem a toda história criada nos jogos anteriores, e o mais importante, uma personagem ainda mais humana. Com um roteiro interessante e próximo do que já estávamos acostumados, Tomb Raider mostra desta vez uma Lara jovem e inexperiente, que busca desvendar a lenda de Yamatai, a ilha secreta dominada e comandada pela imperadora Himiko que, conforme diz a lenda japonesa, possuía poderes xamânicos. Durante a viagem ao destino encontrado por Lara e sua equipe, seu navio é praticamente destruído por forças desconhecidas, forçando o naufrágio e consequentemente a exploração da ilha.
E é logo no começo que o jogo capricha ao construir essa nova Lara Croft. Diferente da heroína destemida que já conhecemos, em Tomb Raider a personagem nada mais é do que uma jovem inexperiente, procurando por sua primeira exploração, e que por conta do naufrágio acaba por se tornar uma sobrevivente diante às circunstâncias apresentadas no jogo – seja enfrentando animais selvagens pela floresta, inimigos da facção que se encontra na ilha ou o frio e fome. Basicamente, Lara sofre mais do que nunca, o tempo todo. E é na dificuldade enfrentada por ela que o jogador explora ainda mais o lado humano de Lara, que aos poucos vai aprendendo a sobreviver em todos os cenários encontrados nessa ilha perdida, encontrando itens, armas e claro, tumbas a serem exploradas. Para os antigos fãs, não se preocupe: as referências estão todas lá. E acredite, não é apenas Lara a única personagem cativante. Os demais personagens, como a amiga Sam e líder da expedição Roth também tem seu papel importante durante toda a história, criando uma importância ainda maior para o jogador durante as horas de jogo.
Além da história, o que torna Tomb Raider um ótimo jogo é a combinação da sua jogabilidade com a ótima qualidade gráfica aplicada principalmente em seus ótimos cenários. A mistura de locais, que vão de antigas instalações feitas entre montanhas, vilarejos e florestas, torna a forma de jogar ainda mais interessante, onde em alguns momentos você deve pensar em qual a melhor maneira de alcançar certos pontos, ou como enfrentar inimigos da forma mais furtiva possível. Detalhe especial para os momentos que se passam à noite, dando uma sensação de tensão ainda maior. A jogabilidade de Lara também é um detalhe a parte: lembra muito os antigos jogos, onde sua movimentação obviamente está melhorada em decorrência da engine utilizada, além das técnicas de captura de movimento. Ver a personagem escalando paredes ou enfrentando inimigos em um combate é um show a parte graças à qualidade gráfica. Talvez o único detalhe que incomode o jogador são os (poucos) quick time events, mas se você já está acostumado a jogos que já os utilizam há tempos, não será algo que você vá reclamar tanto.
Outro detalhe que chama muito a atenção e se encaixa perfeitamente ao jogo é sua trilha sonora. Criada por Jason Graves (responsável também pela trilha sonora da série Dead Space e F.E.A.R. 3), dá uma imersão ainda maior ao jogador, não importando o momento. O trabalho é digno de uma produção cinematográfica, e talvez seja o principal fator de Tomb Raider ser comparado muitas vezes à uma narrativa idêntica de um filme.
Talvez o único ponto menos atrativo de Tomb Raider é o seu modo multiplayer. Mesmo sendo desenvolvido pela Eidos Montreal – o estúdio responsável por Deus Ex: Human Revolution – ele não atrai tanto quanto ao modo single player, e pode ser considerado apenas mais um aproveitamento de jogo, seguindo o mesmo padrão já conhecido: o jogador pode escolher entre 2 equipes (sobreviventes ou caçadores da ilha) e possui três modos de jogo – mata-mata, típico combate entre os times; Resgate, onde os sobreviventes devem encontrar kits de primeiros-socorros e os caçadores devem enfrentá-los; e Cry for Help, onde o time de sobreviventes deve encontrar baterias para manter uma torre de rádio funcionando por um determinado tempo. Apesar de divertido, o modo multiplayer se torna enjoativo.
De uma maneira geral, Tomb Raider é um ótimo jogo e o mais importante, uma ótima origem a uma das personagens mais famosas já criada nos videogames. A evolução de Lara durante o jogo e a forma como isso acontece são incríveis, com um trabalho espetacular de roteiro. É a oportunidade perfeita para conhecer as origens da maior aventureira dos videogames, independente de ter jogado ou não os títulos anteriores da série, e também reconhecer o ótimo trabalho da Square Enix em uma das maiores franquias já feitas, a prova concreta de que a fórmula de aventura com uma protagonista não depende de belos atributos, mas de um roteiro muito bem elaborado. E que aventura.
Trailer de Tomb Raider (2013)