Preparem seus Potions e Elixirs, pois os JRPGs acabam de receber um Phoenix Down. O gênero de histórias envolventes, personagens cativantes e batalhas épicas, deixado de lado por um tempo pelas grandes desenvolvedoras de games, começa a retornar com força crescente no mercado de games. Mas por que eles saíram de moda inicialmente e estão tentando voltar agora?
Quando se fala em JRPGs, logo se lembra da era de ouro do SNES: Final Fantasy VI, Chrono Trigger, Lufia, entre outros, e do Playstation: Final Fantasy VII, Xenogears, Suikoden II, Dragon Quest VII. Com títulos de alta qualidade, e principalmente depois do sucesso de Final Fantasy VII, os JRPGs ganharam o mundo e cada vez mais títulos do gênero eram traduzidos e levados ao Ocidente (até os mais ruinzinhos).
Na geração seguinte, de Playstation 2 e Xbox, a quantidade de games lançados do gênero começou a diminuir, assim como a qualidade. Alguns jogos ainda se destacaram, como Persona 3 e 4, a série Kingdom Hearts, além das continuações de Final Fantasy e Dragon Quest; porém, tanto a quantidade quanto a qualidade dos JRPGs já não era mais a mesma, e até alguns bons jogos não foram um grande sucesso de vendas, seja porque um dos episódios comprometeu a série toda (como Xenosaga II, que, por alguns defeitos na jogabilidade, vendeu menos que o esperado e contribuiu para que a Namco decidisse encurtar a série de 6 para 3 episódios), seja por más decisões comerciais e péssima divulgação (como Shadow Hearts, lançado na mesma época de Final Fantasy X). Em alguns casos, por causa de ambos (como Suikoden V, cujas vendas foram atrapalhadas pelas falhas de seu antecessor e por ter sido lançado junto a Kingdom Hearts II, cuja concorrência era desleal).
Entretanto, na última geração de videogames que os JRPGs atingiram seu maior nível de ostracismo. Cada vez menos jogos do gênero eram lançados ou traduzidos para o Ocidente, e os que eram, no geral, tinham uma qualidade muito aquém dos clássicos das eras 16 e 32-bits. Isto, aliado aos altos e crescentes custos de desenvolvimento de jogos, fez com que a produção de JRPGs migrasse cada vez mais para consoles portáteis. No entanto, mesmo com lançamentos exclusivos de qualidade, como Final Fantasy VII: Crisis Core e Jeanne D’Arc para o PSP, ou The World Ends With You e Dragon Quest IX para o Nintendo DS, eles eram poucos, e muitos dos melhores jogos do gênero eram simplesmente remakes ou relançamentos de clássicos, como Final Fantasy IV, Tactics Ogre: Let’s Cling Together, Chrono Trigger, Dragon Quest IV e V, etc.
Desta forma, surgiam duas hipóteses para explicar o ocaso dos JRPGs. A primeira seria que as desenvolvedoras, tendo em mente o alto custo de produção dos consoles atuais, eram receosas de investir pesado em jogos de 20, 40, 80 horas, e cuja experiência era exclusivamente single player, já que o futuro dos games estava nos jogos multiplayer online. Logo, as poucas produções do gênero tinham orçamentos reduzidos, resultando em jogos de baixa qualidade. Já a segunda supunha que os fãs do gênero tinham “crescido”, e não tinham mais interesse por este tipo de jogo, seguindo em frente para jogar outras coisas, o que explicaria os baixos números de vendas.
Qual das hipóteses seria a correta? Dá para dizer que as duas têm um pouco de verdade. De fato, as grandes produtoras de games estão menos “ousadas” para lançar novos jogos, preferindo apostar em velhas fórmulas de sucesso. Além disso, há a ameaça do mercado de jogos usados, cuja renda não vai para as produtoras, e jogos sem multiplayer têm poucos incentivos para deixarem de ser revendidos. Por outro lado, quem cresceu jogando JRPGs de SNES ou PSX está, hoje, bem acima dos 20, 30 anos, e está ávido por histórias que não sejam mais infantis e bobinhas, característica da qual muitos jogos do gênero ainda têm dificuldade de se desvencilhar. Um marmanjo de 30 anos, geralmente, não vai se divertir tanto controlando um herói de 13. Ainda assim, é possível dizer que esta última perspectiva é mais uma crença do mercado do que uma verdade absoluta. A ausência de JRPGs de qualidade não coloca à prova esta questão, e evidencia que as desenvolvedoras não souberam moldar o gênero aos novos tempos. Além disso, esta perspectiva é mais sobre o público norte-americano (que é o maior) do que o japonês (ou até mesmo do resto do mundo). E o que, supostamente, tem poucas chances de vender bem no maior mercado ganha menos incentivos para ser produzido, ainda mais com um alto orçamento.
Mas na virada desta década, os JRPGs começaram a experimentar um ressurgimento, e partindo do console de onde se menos esperava: o Nintendo Wii. Dois jogos em particular se destacaram: Xenoblade Chronicles, lançado em 2010, e The Last Story, lançado em 2011. Ambos os games foram um sucesso de crítica e de vendas, mas havia um problema: a Nintendo não demonstrava nenhum interesse de trazê-los ao mercado norte-americano. O problema nem era o Ocidente, pois eles foram lançados antes na Europa, mas a visão de que os americanos não gostavam mais desse tipo de jogo (prejudicando nós, brasileiros, por tabela) e, logo, que não venderiam bem. Alguns fãs se revoltaram com a postura da Nintendo, e decidiram dar início à Operation Rainfall, uma operação que buscava organizar petições e protestos virtuais para pressionar a Nintendo a trazer os jogos aos EUA. Felizmente, a pressão funcionou, e a Nintendo enfim cedeu, trazendo ambos os games ao mercado norte-americano, embora com certo atraso e ainda com um pouco de receio, lançando poucos exemplares. De fato, talvez eles não esperassem o que ocorreu: os dois foram um sucesso de vendas nos EUA e logo esgotaram nas principais lojas. No caso de The Last Story, ainda relançaram o jogo recentemente numa versão mais barata para que mais pessoas possam comprá-lo (em vez de recorrer aos jogos usados, os únicos lugares onde ainda era possível encontrar o game).
Se a Nintendo subestimou o público norte-americano, as desenvolvedoras no console da Sony tomaram nota e aprenderam a lição. A Namco Bandai cedeu aos apelos dos fãs e traduziu Tales of Graces F, e embora o jogo não tenha vendido tanto quanto esperavam, a própria companhia admitiu (o que é raro no mundo dos games) que foi mais pela falta de propaganda do jogo do que por falta de público. Contudo, o grande destaque fica para o recente lançamento, neste janeiro, de Ni no Kuni: Wrath of the White Witch, uma parceira entre a desenvolvedora de games Level-5 e o Studio Ghibli, que produziu os animes Princesa Mononoke e o vencedor do Oscar de Melhor Animação, A Viagem de Chihiro. Com belos gráficos, uma história comovente e uma trilha sonora encantadora, o jogo foi um sucesso de crítica, atraindo atenção em peso, novamente, aos JRPGs.
A perspectiva que a maré estava mudando para os jogos do gênero já deu resultado. A Namco Bandai já anunciou a tradução de próximo game da série Tales, o Tales of Xillia. Já a Nintendo, tão receosa do público norte-americano, anunciou que lançará Pandora’s Tower nos EUA, um RPG/ação que era o último dos 3 jogos da Operation Rainfall. E mais, a Big N ainda deu forte destaque em seu último anúncio de novidades para o Wii U sobre a produção de um novo jogo dos mesmos produtores de Xenoblade Chronicles, ainda com o codinome X. Como o anúncio foi em inglês, significa que, desta vez, eles não pretendem cometer o mesmo erro e poupar os americanos deste grande jogo. E a Atlus, em parceria com a Nintendo, anunciou um crossover entre duas séries de JRPG: Shin Megami Tensei x Fire Emblem, cujo resultado ainda é um mistério. Mas a grande expectativa fica mesmo para Persona 5, que já estaria em produção, com maiores detalhes ainda a serem divulgados.
E se a situação começa a melhorar nos consoles tradicionais, os portáteis ainda vivem um ótimo momento, em particular o Nintendo 3DS. Cada vez mais JRPGs são lançados e traduzidos para o Ocidente, inclusive alguns que, provavelmente, há alguns anos não teriam a mesma sorte, como Project X Zone, um RPG tático com personagens da Sega, Namco Bandai e Capcom. E neste ano, a lista de lançamentos é farta, começando com o tão esperado Fire Emblem Awakening, que será lançado em fevereiro, além dos tão aguardados Pokémon X & Y, previstos para outubro.
Toda essa reviravolta ainda é beneficiada pelo crescente sucesso de jogos indie, que valorizam o conteúdo em vez de gráficos mirabolantes, e pela crescente demanda por boas histórias, território no qual os JRPGs sempre se destacaram. Assim, se você é fã do gênero, logo mais não precisará reclamar sobre ter que jogar os mesmos clássicos de sempre. Se ainda não é, terá fortes motivos para dar mais uma chance a esses jogos.
E você, qual é o seu JRPG favorito? E por qual futuro lançamento você está mais ansioso? Conte-nos! Mas, antes, toquem as trombetas: os JRPGs estão de volta. E torcemos que, desta vez, para ficar.