Atenção: o texto possui spoilers sobre seu antecessor, o jogo Life is Strange. Recomendamos (e muito) que o jogue antes de continuar a leitura.
Após um primeiro episódio fraco e uma continuação que deixou enormes possibilidades de exploração em aberto, chega ao fim a história de Chloe e Rachel. Apesar de já sabermos o rumo que a história irá tomar, a curiosidade em entender alguns dos enigmas levantados durante a trama e também em torno da conexão que seria feita com o jogo original tornam a existência do terceiro episódio mais do que essencial.
Como a história havia parado em um momento crítico, nada mais justo do que retomar exatamente do mesmo ponto. E é então que descobrimos toda a verdade sobre o passado de Rachel que envolve a sua mãe, acabando com o único grande enigma que ainda existia. A partir de então, o jogador é obrigado a passar grande parte do seu tempo em diálogos que não alterarão em nada o que já se sabe da história, tendo que lidar com a depressão de Rachel e consertar carros para fugir com ela.
O grande maior problema se encontra no fato de que tudo é extremamente linear. Não há sequer a pretensão de enganar o jogador para que ele ao menos se sinta controlando a própria história, já que ele deve fazer exatamente as mesmas coisas, sempre. Momentos de tensão não causam grande espanto, até porque já sabemos o destino de ambas as personagens (a não ser que você escolha o pior final do jogo) no Life is Strange original, então o que conduz a experiência até o fim é entender como o professor Jefferson entrará na vida das personagens.
Assim como em todos os outros episódios, temas sérios são levantados durante a trajetória de Chloe. Desta vez, além de lidar com a morte do pai (algo que parece a assombrar para sempre), ela também se envolve em um caso de perigo de violência sexual, presa com um homem agressivo em um espaço fechado. Mesmo com elementos angustiantes, como a tentativa de ligar para a polícia e de convencê-lo a manter-se calmo, é uma pena que a resolução seja tão fraca. Parece que a equipe perdeu a mão na construção do roteiro, infelizmente.
Um jogo que poderia ter sido um livro
Há uma pequena possibilidade, dentro do jogo, de conseguir um final especial. Para que isso ocorra, será preciso dar as respostas corretas para a mãe verdadeira de Rachel, em um momento tenso e violento dentro do armazém. Aliás, esse é o momento que deveria ser mais conectado com o jogador, e também consegue se perder em fracas interações e escolhas com poucos resultados.
A relação que se cria com Rachel, após a resolução, é parecida com a que o jogador presenciou com Max. Ambas parecem apaixonadas, mas vivem em situações que não parecem felizes e sem qualquer perspectiva de vida. Por serem adolescentes, isso pode ser considerado comum, mas dentro de temas tão complexos apresentados, fica a sensação de que poderiam ter explorado mais.
No final original, o que entendemos é que Chloe e Rachel viveram uma relação muito próxima. Só isso. Mesmo a trama envolvendo a mãe da personagem não acrescenta nada na história – o final especial acrescenta cerca de dez segundos em que ela aparece e as duas se abraçam. Não há qualquer menção à maneira como Rachel foi seduzida pelo professor Jefferson, sendo que isso era o maior motivo de todos estarmos jogando até o fim.
Agora em janeiro será lançado um episódio especial, que contará com a participação de Max e com a volta da dubladora original de Chloe. Ele será liberado apenas para os que compraram a edição deluxe e/ou fizeram a pré-venda, mas também poderá ser comprado individualmente. Pouco se sabe sobre ele, além do fato de que se passará cinco anos antes de Before the Storm, e que o jogador voltará a controlar Max. Só nos resta esperar que haja conteúdo suficiente nele para que a impressão final do jogo seja mais positiva.
Sendo um jogo com poucas interações e decisões que coloquem o jogador em situações em que é preciso pensar rápido, a sensação que fica em Life is Strange: Before the Storm é a de que ele é desnecessário, ou que poderia ter sido um livro. Pouco se aprende sobre as personagens, transformando a experiência em um enorme filme interativo. Talvez seja uma boa opção para quem nunca jogou Life is Strange e queira começar com ele, já que terá medos e curiosidades que antigos jogadores não têm.