Quando uma série de filmes que amamos é escolhida para um reboot, é comum torcemos o nariz. Não é à toa, temos inúmeros exemplos desastrosos. E quando uma franquia querida por muitos é alvo de Hollywood, nossa primeira reação é inevitavelmente estranhar. Os Caça-Fantasmas, nesse caso, é um exemplo perfeito dessa proteção à memória afetiva de quem assistiu por diversas vezes na Sessão da Tarde o grupo de cientistas que laçavam fantasmas com raios de energia e salvava Nova York de um apocalipse espectral. Agora foi a vez do filme ganhar uma nova versão nos cinemas, e com um detalhe que incomodou muita gente: dessa vez o grupo é composto por mulheres.
Caça-Fantasmas, que chega aos cinemas nessa quinta-feira, é o completo oposto do que imaginavam os mais fanáticos pelos filmes da década de 80, mas já chegamos aí. Com a direção de Paul Feig, o longa é uma releitura dos filmes anteriores, com uma visão mais atual – afinal já são 30 anos do original – e segue o mesmo conceito. O filme nos apresenta as cientistas Erin Gilbert (Kristen Wiig) e Abby Yates (Melissa McCarthy), pesquisadoras de fenômenos sobrenaturais que, mesmo tendo escrito um livro juntas, se afastam por suas buscas profissionais e acadêmicas. O reencontro acontece quando o dono de um museu as procura por causa de uma assombração, tornando então a primeira oportunidade para a dupla comprovar suas teorias.
Se os papéis de Wigg e McCarthy deveriam ser os principais (como foram os de Bill Murray e Dan Aykroyd no original) falharam miseravelmente por ter no elenco Kate McKinnon. A engenheira Jillian Holtzmann rouba a cena no filme pelo seu jeito maluco e impulsivo, com comentários e atitudes de arrancar o riso de quem assistir. Junta-se à equipe a genial Leslie Jones no papel de Patty Tolan, a atendente do metrô nova-yorquino que acaba fazendo parte do grupo. Para completar o elenco, Kevin (Chris Hemsworth) se junta para o complicado trabalho de atendente e recepcionista no recém-alugado escritório das Caça-Fantasmas.
Assim como o elenco, que é formado por comediantes do Saturday Night Live, o roteiro segue a fórmula já conhecida. Com o aumento de relatos sobrenaturais nos mais diversos lugares (seja o metrô ou num show do Ozzy Osbourne), cabe a elas investigar e capturar os fantasmas enquanto tentam descobrir o que está trazendo as aparições para as ruas, uma tentativa do esquisito Rowan (Neil Casey) em se tornar o senhor do outro mundo.
Apesar de uma história simples e cheia de furos, é aqui que o filme se torna o oposto do original, e por um pequeno mas importante detalhe: ele é muito melhor.
Mesmo sendo uma releitura e tendo erros e acertos, Caça-Fantasmas consegue ser tão divertido (até mais) que o original. É difícil identificar o motivo, seja a química entre o elenco, as hilárias conversas dos personagens ou as cenas de ação enquanto caçam fantasmas. O mais importante é que o filme não força a barra em tentar substituir o original e nem tenta se tornar parte de uma mitologia pop consagrada. As personagens são ótimas e mesmo inspiradas nos papéis dos atores originais conseguem ser completamente diferentes. É como ver um universo paralelo que coexiste com aquele criado anos atrás, sem interferir e nem atrapalhar – e muito menos destruí-lo.
Se a ideia do novo filme era apresentar algo mais atual para uma nova geração, as Caça-Fantasmas faz isso muito bem sendo uma excelente comédia com uma linha de humor simples e divertida, que se mistura com os ótimos efeitos especiais que o filme possui. Para os fãs mais assíduos, a surpresa agradável são as inúmeras referências aos originais que, mesmo respeitando a nostalgia chega a ser exagerada e até um pouco desnecessária. As novas Caça-Fantasmas são ótimas, e Dr. Egon ficaria orgulhoso com o poder de fogo das garotas. Se algo estranho acontecesse na vizinhança, eu já sei quem iria chamar.