Já imaginou aqueles contos de fadas cheios de princesas e dragões como um emocionante RPG inspirado nos clássicos japoneses do estilo? Se sim, seu sonho foi realizado. Se não, a Ubisoft imaginou para você. Child of Light, lançado no dia 30 de abril deste ano para todas as plataformas (PC, Xbox 360, Xbox One, WiiU, PS3, Ps4 e PS Vita) é a união de um livro de conto de fadas com uma homenagem carinhosa a JRPGs como Final Fantasy VI.
A história é simples: Aurora é a pequena filha do duque da Aústria em meados do século XIX. A menina assiste o falecimento de sua mãe seguido pelo novo casamento de seu pai. Tudo parecia bem com a nova família se reconstruindo após a tragédia até que, para imenso sofrimento do duque, Aurora dorme e não acorda mais. Essa introdução é narrada no estilo contadora de histórias, e o jogo começa com Aurora, após sua suposta morte, despertando em um altar no meio de uma floresta.
Confusa, a menina conhece Igniculus, um vagalume que a acompanha e auxilia durante sua jornada. A partir desse ponto, o jogo não difere muito dos RPGs com que já estamos familiarizados: você deve explorar cenários, vencer batalhas, encontrar aliados e finalmente derrotar a sombria Rainha da Noite, que tomou a luz do sol, da lua e das estrelas, condenando os habitantes do reino de Lemuria à escuridão.
O primeiro atrativo de Child of Light são os gráficos deslumbrantes, em estilo aquarela. O jogo foi concebido para ter o visual de um livro de conto de fadas e nos brinda com uma das artes mais bonitas e cuidadas que já vi em um game. Os cenários são detalhados e os personagens lindamente caracterizados de acordo com suas personalidades. Aurora tem um visual simples sem a estética super “kawaii” comum em games assim, que combina muito com a garotinha determinada que nega irritada ser uma princesa aos habitantes de Lemuria (sua coroa seria apenas um brinquedo). Possível e bonita, acredito que ainda veremos ela como heroína de muitas jovens cosplayers.
A trilha sonora de Child of Light é tão bonita quanto a arte do jogo. As músicas são orquestradas com belas inserções de coros em momentos cruciais da narrativa. É o tipo de jogo para apreciar com o volume alto. A dublagem brasileira também não decepciona, mantendo as falas rimadas e o estilo de narrativa de um livro infantil.
A jogabilidade é satisfatória sem grandes novidades, com o clássico esquema de batalha em turnos. Porém a equipe da Ubisoft acertou ao acrescentar algumas inovações que deixam as lutas mais ágeis e diminuem o eventual tédio que esse formato pode trazer a jogadores mais experientes. É possível usar Igniculus para atrasar os movimentos do adversário, ou para curar personagens, o que gera um pouco de ação durante o tempo de espera para executar seu movimento.
Existe a opção de modo cooperativo, com um segundo jogador controlando Igniculus (joguei com meu irmão e achamos bem divertido!) que ajuda os jogadores que se atrapalham ao cuidar da luta e do vagalume ao mesmo tempo. Outra vantagem é que, ao trocar de personagens durante as batalhas, você não precisa esperar o próximo turno para atacar, podendo realizar a troca e a ação na mesma rodada.
Um ponto negativo é que Child of Light não traz muita dificuldade ao jogador mais experiente de RPG. Como não existe moeda e compra de itens no jogo, talvez a falta de itens de cura possa ser um pequeno empecilho nas batalhas, que não chega a ser crítico. O jogo traz elementos bem conhecidos que podem ser tanto divertidos quando se descobre a homenagem quanto meio monótonos pela facilidade: os puzzles lembram muito a série Zelda, o próprio Igniculus é uma versão da fadinha escudeira de Link em suas aventuras, e Aurora também visita templos para cumprir etapas da missão.
Por fim não posso deixar de elogiar o fato de finalmente termos um jogo em que a princesa clássica de conto de fadas se salva sozinha. Child of Light é muito inclusivo com as meninas em sua narrativa e eu o recomendo muito caso você queira apresentar o lindo mundo dos RPGs para alguma pequena gamer. E gente crescida pode jogar sem medo. Arrisco até dizer que vai ter marmanjo visitado pelos ninjas cortadores de cebola no final.