Depois de rumores sobre um novo jogo da série Final Fantasy e especulações do que poderia ser – nós falamos sobre aqui no site – , a Square-Enix lançou no dia 17 de Janeiro, para o sistema iOS, o seu novo título Final Fantasy: All The Bravest. Com muitos fãs na expectativa, mesmo focado para os portáteis da Apple, seu lançamento não foi exatamente como poderíamos imaginar, tornando-se um dos piores jogos a aterrisar na AppStore.
Todos que acompanham a série Final Fantasy estão acostumados com alguns escorregões da Square, uma das poucas empresas com uma saga tão forte que não é propriamente ligada a nenhuma empresa das principais desenvolvedoras de consoles. Ainda temos na nossa lembrança Final Fantasy XI, o primeiro MMO da empresa, e também o fracasso que foi Final Fantasy XIV, que obrigou a empresa a refazer o jogo para agradar seus fãs mais enraivecidos pelo projeto. O problema é que, de vez em quando, ela esquece que é uma empresa que pode fazer títulos excelentes, e nos entregam projetos claramente inacabados, focados em tirar o dinheiro de seus fãs mais leais, como ocorreu em Final Fantasy Dimensions. E um problema ainda maior é quando a empresa decide repetir o erro, fazendo algo ainda pior, ainda mais voltado a mexer na carteira de quem é apaixonado pela sua franquia. E é exatamente isso que aconteceu com Final Fantasy: All The Bravest.
Em um momento de epifania, discutindo sobre o que esse jogo poderia ser, um amigo me disse que meu temor sobre esse jogo era bobeira. Vou usar um exemplo para explicar: Não é por quê Arnold Schwarzenegger, nosso amado brucutu, decidiu fazer Um Tira no Jardim de Infância que sua carreira está no buraco. E eu aceitei isso. Mas como vocês poderão ver no final dessa pequena análise, o único exemplo cabível seria Arnold Schwarzenegger fazendo Um Tira no Jardim de Infância 2, aonde ele é espancado duramente pelas crianças do começo ao fim do filme, enquanto está vestido com a roupa que o The Rock usou no filme O Fada dos Dentes. Esse é o tanto de humilhação esperado na minha mente agora.
A idéia do jogo, que é brincar com o nome All The Bravest e relembrar o passado da série, utilizando o modo ATB (Active Time Battle) para jogar, não seria tão ruim se tivesse sido aplicada de forma diferente, para começo de conversa. A jogabilidade do jogo se resume a “clicar” nos personagens – ou, como dá pra se imaginar, apenas passando o dedo pelo lado da tela aonde estão seus personagens com as barras ATB cheias, de forma rápida – para que eles ataquem. Só isso. Nada de escolher habilidades, nada de magias específicas para matar os inimigos, nada de curar seus personagens, apenas foco em atacar os inimigos. Aliás, “foco” – sim, entre aspas -, pois você não pode escolher o alvo de seus ataques. Mesmo que um dos monstros esteja com 80% de HP e o outro com 20%, quem escolhe é o jogo.
O que dá pra se analisar em Final Fantasy: All The Bravest é que o objetivo é que você tenha o máximo de personagens em sua tela para vencer os adversários, monstros vindos de todos os títulos anteriores da série Final Fantasy. A cada nível que você passa, ou utilizando-se das redes sociais – no caso, você pode twittar sobre o jogo e ganhar um slot de personagem novo, com um limite de 8 vezes por dia – você tem que formar um grupo cada vez maior para enfrentar os inimigos pelo caminho, inclusive enfrentando chefões famosos da série. O problema nisso é que seus numerosos heróis são expulsos do campo com apenas um ataque dos adversários, ou seja, um ataque é o suficiente pra tirar qualquer personagem do campo.
A única vantagem do jogo é, caso você fique com apenas um herói no fim de uma fase, você terá seu grupo recarregado ao máximo disponível: em miúdos, se você tinha um grupo com 20, volta aos 20 na próxima fase. E você também pode jogar as fases que já jogou novamente, para aumentar seu nível e, assim, desbloquear mais personagens. Com isso, você também pode desbloquear armas para seus personagens. E caso você tenha achado uma arma que possa ser equipada por uma classe em específico, todos os personagens daquela classe poderão utilizar essa arma, tornando o grupo todo um pouco mais forte. O problema disso é que, caso seu grupo seja vencido, você tem que esperar três minutos fora do jogo para que cada personagem se regenere. Ou seja, se você tem 30 personagens, então 90 minutos de espera. Um timer – extremamente comum em jogos freemium – horrível, mas que pode ser revertido com o item Golden Hourglass. Você recebe três desses itens no começo do jogo, sendo forçado a utilizar o primeiro logo no tutorial. Caso você queira mais, você pode comprar um pacote com três que custa 0.99 centavos de dólar.
De acordo com seu progresso no jogo, você vai desbloqueando personagens diferentes, o que acontece até de forma bem legal: quando uma classe nova entra em campo, o foco é fechado nela, dão um zoom no personagem e você pode ver qual classe é aquela. Nesse zoom, eles dão também o nome da classe, para que os novatos não tenham problemas em reconhecer quem está entrando em campo. Só que tudo isso ocorre de maneira aleatória, e você não pode escolher qual classe vai liberar, nem quando. Mas caso você queira personagens famosos da série, como Terra de Final Fantasy VI, ou Cloud de Final Fantasy VII, você precisa pagar mais um dólar por esse personagem “premium“. Você tem 35 desses personagens à sua disposição. O segundo problema, pois o primeiro é ter de gastar dinheiro real pra isso, é que você não escolhe qual personagem vai pegar, e sim uma roleta aparecerá e você tem uma chance (1/35 e assim consecutivamente para 1/34, 1/33) de aparecer um personagem. Claro, você irá ter um personagem premium, mas pode ser que não seja um que você queira. Se você for uma pessoa extremamente sem sorte – como é meu caso – você vai ter de gastar 35 dólares para ter Kain, o Dragoon de Final Fantasy IV, à sua disposição. Parando para calcular, já são, pelo menos, 36 dólares que você vai gastar, contando com um kit de 3 Golden Hourglass.
O mapa, pelo que dá pra você ver até agora, é longo. Ou seja, você terá várias missões à sua disposição. Mas, caso você queira mapas diferentes – três atualmente: Midgar (Final Fantasy VII), Zanarkand (Final Fantasy X) e Archylte Steppe (Final Fantasy XIII) – estão à disposição para que você possa comprar e se aventurar por novos mundos. Você, de forma alguma, é obrigado a comprar esses novos mundos, mas para o fã da franquia, muitas vezes o que interessa é o 100% no fim do jogo, não? O duro é ter que pagar 3.99 dólares nisso. Ou seja, mais 12 dólares que você vai gastar no jogo. Somando tudo, chegamos a 48 dólares de gastos.
Até agora, se eu aparecesse para vocês e falasse que o jogo é gratuito – já que ele segue praticamente todo o comportamento de um jogo Freemium, que precisa de dinheiro real para que você obtenha tudo dentro dele (já falamos bastante sobre isso aqui no site) – vocês até poderiam aceitar, certo? Aí mora a cereja do bolo: esse aplicativo vergonhoso custa abusivos 4 dólares. Eu digo abusivo pois isso é praticamente inaceitável dentro de um ecossistema como a AppStore, aonde você tem excelentes jogos que não cobram nem metade disso e não contam com In-App Purchases. Um jogo que eu uso como exemplo é Battleheart, que custa 3 dólares e não tem nada para ser comprado sem usar a moeda do jogo.
Se a idéia da Square-Enix era fazer um caça-níqueis que tem como interesse sugar dinheiro de seus fãs, o objetivo foi alcançado com louvores. Agora, se a proposta era trazer novidade para a série Final Fantasy, devo dizer que não foi apenas um erro, mas uma falha miserável.
Pra encerrar essa breve análise, tudo que posso dizer a vocês é: NÃO COMPREM ESSE JOGO. Se existem responsáveis pela péssima qualidade de alguns apps mobile, esse jogo (e aqueles que comprarem esse jogo e todas as suas In-App Purchases) com certeza é um deles. Eu poderia até dizer que ele é uma afronta à tudo que a saga Final Fantasy já representou um dia, com títulos que prendiam o jogador, roteiros de qualidade e profundidade de personagens, mas isso seria pouco perto do desgosto que esse Spin-Off mal feito me faz sentir.