Em mais uma matéria sobre o que há de ruim no Mobile Gaming, hoje o tema abordado será um bem polêmico: cópias descaradas de formatos vencedores. O quanto isso pode acabar prejudicando o ambiente da AppStore e, consequentemente, os jogadores que dali desfrutam de conteúdos gratuitos ou baratos?
Mesmo com o avanço da qualidade dos jogos que saem na AppStore toda semana, ainda temos muito lixo feito sem um mínimo de criatividade. Muitas vezes as cópias são baseadas em jogos consagrados no console, ou até mesmo de fórmulas vencedoras da própria loja da Apple.
Diversos jogos tentam recriar a experiência em plataforma de Super Mario Bros. (de todas as maneiras possíveis), ou o gerenciamento de monstros de Pokémon. Muitos deles pegam fórmulas que fazem sucesso até hoje tentando tirar alguns trocados de jogadores mais desatentos com jogos que parecem os originais, mas que não entregam nada do que é prometido pelas screenshots. Ou também, em alguns casos, a jogabilidade é tão truncada que você acaba deletando o aplicativo poucos minutos depois de jogá-lo. Na maioria deles, o jogo é tão copiado, sem nenhuma diferença em gameplay/gráficos a não ser o protagonista, que a própria Apple retira os jogos de circulação para evitar processos.
O problema é que a cada semana surge um novo “Pokémon” para iOS, tentando emular a experiência portátil dos monstrinhos colecionáveis da Nintendo, e acabam falhando miseravelmente em sua tentativa, frustrando muitos jogadores que realmente esperam algo que se assemelhe ao hit em seus dispositivos. O mesmo vale para diversos Jumping Man Games, tentando criar um novo jogo de plataforma. O maior problema nesses jogos acaba nem sendo a jogabilidade horrível e o fato de ser uma cópia barata, mas sim a cara de pau dos desenvolvedores. Aí toca o jogador desavisado a comprar um jogo desses esperando uma experiência próxima ao que ele pode encontrar em seus consoles portáteis e se frustra, muitas vezes voltando-se para os consoles portáteis dedicados exclusivamente a gaming.
Caso isso se limitasse a esses problemas, não seria algo suficiente para gerar um post e – consequentemente – ser um problema para o jogador de smartphone/tablet. O que acaba piorando essa situação é que muitas empresas querem repetir o sucesso de aclamados jogos na AppStore, como é o caso de Angry Birds, Battleheart, Infinity Blade, Super Crate Box e Zenonia.
Sucesso absoluto que sempre tenta se renovar, Angry Birds sofre muito ao ser copiado descaradamente por muitas empresas na AppStore/Google Play. São jogos tentando imitar as físicas utilizando trolls/piratas/anjos/patos e afins, querendo pegar o vácuo do sucesso das obras da Rovio. Temos aqueles que tentam emular a mesma experiência de gameplay de Battleheart, com gerenciamento de personagens via toque/linhas. Diversos KRPGs (ou RPGs Coreanos) que tentam ter o mesmo sucesso de Zenonia, tentando utilizar os mesmos conceitos de gameplay de um RPG que tenta se aproximar mais de personagens com limitações reais de carregamento de itens e movimentação. Além, é claro, de jogos que tentam emular os cortes de tela formando combos e danos na tela contra monstros que parecem apenas irmãos menores e com sérios problemas de Infinity Blade. Isso, sem esquecer dos diversos jogos que não se dão ao menor trabalho de tentar copiar Super Crate Box, com a coleta de “caixas” pelo cenário para que seu personagem tenha temporariamente alguma arma capaz de matar mais inimigos, mas sem a mesma criatividade do original.
O problema muitas vezes não está nem no fato de ser uma cópia descarada que poderia render um processo contra ditas empresas, pois muitas cópias acabam saindo melhores do que a idéia original. Listo aqui Muffin Knight, que é um dos “filhos” diretos de Super Crate Box, mas que resolveu investir pesado na parte gráfica, entregando um jogo muito bonito e que dá espaço à evolução do personagem também visualmente. O problema é que muitas vezes esses jogos sofrem com o fato de virem de empresas desconhecidas querendo seu lugar ao sol. E, como é comum, esses jogos tendem a aderir ao modelo Freemium, cobrando recursos reais do jogador para que ele possa ter uma experiência total de gameplay.
Mas, para que o jogador se sinta tentado a inserir seu dinheiro em um jogo, muitas vezes o aplicativo é exageradamente desproporcional em termos de dificuldade. Muitas vezes a primeira fase já costuma ser extremamente difícil, exigindo que você já aprimore a habilidade de seus bonequinhos antes mesmo de entrar na primeira batalha. Há também aqueles que exigem que você permaneça conectado o tempo todo para que você possa usufruir do jogo. Esse, pra mim, talvez seja o maior problema, principalmente por termos uma rede 3G tão fraca como é a brasileira. Se você por acaso sofrer uma queda de conexão, muitas vezes seu progresso não é salvo, e você é obrigado a voltar dezenas de minutos atrás em sua jogatina por causa de um simples trocar de antenas.
Como é mais comum com os KRPGs, muitas vezes você tem limitações como energia e espaços livres em sua bolsa. Muitos jogos que poderiam trazer alguma diferença em questão de histórias para a AppStore acabam desanimando os jogadores que gostam de gastar horas no mesmo mapa subindo de nível e juntando dinheiro por causa de espaço livre na mala do herói, restringindo sua movimentação, impedindo que ele realize ações no campo de batalha e até mesmo impedindo-o de vender esses itens até que ele descarte alguns dos espólios, ou comprando mais espaço utilizando dinheiro real.
Temos os casos aonde o jogo até poderia ser bom, com idéias originais em cima de um modelo já repetido, como foi o caso de uma cópia de Battleheart com pano de fundo sci-fi que não irei dar o nome aqui pra impedir que vocês sofram com um jogo de péssima qualidade. A premissa era muito boa, inclusive conseguiram chamar um narrador famoso de games para que ele participasse do vídeo de introdução do jogo, narrando o mesmo. Mas aí temos um jogo que conta com “timers”, que são os famosos pontos de energia, que forçam você a esperar por X minutos para conseguir jogar uma partida. A empresa tentou se justificar, dizendo que era possível conseguir energia através de jogos com seus amigos via Facebook, mas o sistema de conexão era tão precário e sofrível que acabei deixando esse jogo de lado, voltando a dar a devida atenção ao Battleheart original.
O problema também ocorre quando a própria empresa dona das idéias geniais acaba escolhendo adotar o formato de In-App Purchases, ou fazendo cópias sem muita criatividade de seus próprios jogos. Isso ocorre hoje com a Rovio, que mesmo tentando se recriar com jogos novos envolvendo seus carismáticos passarinhos e porquinhos, acaba dando a você como única escolha gastar dinheiro real para liberar alguns mundos dentro de seus jogos, ou como é o caso da empresa criadora de Zenonia, que debandou para o modelo Freemium, fazendo com que seus próprios jogos virassem clones sem criatividade do original, e sofrendo dos mesmos problemas de suas cópias descaradas que flertam exageradamente com as In-App Purchases.
No fim das contas, são as empresas que definem o que vão lançar, qual tipo de público elas pretendem atingir com seus jogos e tudo mais, mas com muitas decisões desse tipo elas acabam afastando o consumidor final de seus produtos, e isso acaba refletindo negativamente também na AppStore, com diversos jogos que sofrem uma queda de estatística imensa logo na primeira semana. Cabe aos desenvolvedores pensarem muito bem antes de lançarem jogos que definitivamente não irão desagradar os jogadores logo de cara por serem cópias diretas de títulos que conseguiram quebrar a mesmice das lojas virtuais, que estavam com uma overdose de Tower Defenses, e que hoje está com pouquíssimo conteúdo sendo original e provocando mudanças na forma de se jogar em smartphones e tablets.