Em dezembro, durante o evento Jornada Gamer que rolou na PUC-SP, tivemos a oportunidade de conhecer e conversar com Moacyr Alves Jr., colecionador de jogos e idealizador de um dos projetos mais importantes para a comunidade gamer brasileira, o Jogo Justo. Com muito bom humor e uma simpatia inigualável, a conversa com Moacyr rendeu em uma entrevista onde nos conversamos sobre um futuro promissor no mercado de games no país e que o Jogo Justo tem tudo pra dar certo – e só depende da gente.

Bonus Stage: O desenvolvimento de jogos está começando a aparecer com mais freqüência no Brasil e mais empresas estão vendendo o console em si. Que você acha da indústria de desenvolvimento de jogos no Brasil hoje? É um mercado promissor?

Moacyr Alves Jr: Na verdade, estão todos olhando para o Brasil. O Brasil não é mais apenas um pólo comercial, estamos vendo desenvolver novos profissionais nessa área. Afinal, foi um brasileiro que fez o Kinect e a gente sabe bem no que está dando. Aqui uma hora ou outra essa indústria vai se desenvolver e espero que seja necessário que se abra mais faculdades para formar mais profissionais na área. Só acho que o Brasil vai começar tarde e já fomos ultrapassados por várias indústrias de outros países. O México e a Coréia são exemplos disso. O Canadá, está com um Lei de Incentivo excelente. Todos estão vendo que esse é um mercado bom e estão querendo essa indústria, e o Brasil ainda está engatinhando nisso. Culpa de quem? O mercado não é incentivado, o governo não dá incentivo, praticamente eles nem sabem que existe isso. Na verdade, agora com o nosso projeto, estamos abrindo os olhos desse pessoal pro mercado. E assim, o que a estamos fazendo é aquela coisa tipo viral: quanto mais pessoas souberem e derem mais força, a gente ganha. É onde a gente está aparecendo nesse meio tempo. Eu posso dizer que vejo o mercado hoje, como promissor. Mas somente daqui a dois, três anos, o que pra mim ainda é um tempo. Temos vários profissionais começando, mas os ótimos profissionais que são daqui não ficam no Brasil e vão pra fora. Você pode ver que o cara é bom, eles falam “poxa, o cara se destaca, então vem cá…” Então, nós tivemos brasileiros no Alan Wake, no Mass Effect 2, em várias outras produções lá de fora. Aí o que acontece, pra nós começarmos a desenvolver por aqui com as nossas ferramentas ainda é complicado. O bom é que a gente vai começar a aprender na raça, o que eu gosto aqui no Brasil é a raça que ele tem pras coisas. Se você vai pros EUA, por exemplo, é uma coisa fantástica. A mulher que está no caixa ela não sabe consertar a máquina registradora, se quebrar ela nem toca. Ela chama um técnico e quando o cara vê era pra trocar a fita. Entendeu? É uma coisa que qualquer um faz, e se fosse no Brasil a mulher já iria abrir a máquina e já ia trocar, e continuar seu trabalho. Então, essa é a vantagem que o Brasil tem, o brasileiro é muito curioso. Mas, como eu disse: é promissor, mas a médio e longo prazo.

Bonus Stage: Hoje em dia vemos o desenvolvimento de jogos, principalmente no Brasil, por produtoras independentes focado pro mercado dos celulares, jogos desenvolvidos para o sistema iOS (Ipod Touch, iPhone, iPad) e também para Android, e por aqui não temos desenvolvimento pra jogos de consoles. Você acha que nesse caso o desenvolvimento para essas plataformas móveis ainda é muito demorado e falta um grande incentivo ou faltaria talvez um mercado que procurasse por profissionais focados nessa área, já que hoje vemos cada vez mais cursos para desenvolvimento de jogos em grandes escolas e algumas faculdades? Acha que isso impede o desenvolvimento para consoles de mesa, principalmente quando muitos gamers estão ‘migrando’ para essa nova plataforma?

Moacyr: Isso é uma coisa interessante e posso dizer uma coisa pra vocês: os mobiles são legais, mas ninguém tem saco de jogar. Eu não tenho saco de jogar. E olha que eu já peguei até os mais legais pra jogar… só que você não tem condições hábeis pra jogar. Então, video-game é video-game, celular é celular. Você pode incrementar uma coisa com a outra, mas não é o que o aparelho se propõe. Os jogos para celulares são legais, as empresas que estão aqui, a GameLoft e várias outras, parabéns! E tem que continuar! Mas que um não atrapalhe o outro. Na verdade, só temos as ferramentas para móbiles porque são mais simples. Eu não sou programador, e até é meio lógico, mas acho que é muito mais fácil fazer um jogo pra celular que possa usar Java do que você usar uma ferramenta extremamente pesada para produzir jogos para consoles. Pro vídeo-game é necessário um investimento muito maior que o brasileiro não tem capacidade ainda, e você precisa de uma equipe muito grande pra fazer um jogo pra um Xbox, um Playstation. Já pra celular são quantas pessoas? 10, 15, e olhe lá, posso estar chutando alto. Quantas pessoas precisam pra fazer um Rock Band, por exemplo? É um estúdio inteiro, com várias subdivisões. Game para mobile é uma coisa, game para video-game é outra . O que está acontecendo é que o Brasil está se desenvolvendo na área dos celulares pela questão de ser mais barato e fácil. Ninguém banca grandes investimentos pra games. Ou aqui no Brasil vai ser necessário uma Lei Rouanett focada para isso, já que é um incentivo à cultura. As escolas aqui ainda estão dando cursos para desenvolver jogos para PC o que não exige uma estrutura muito grande, porque se fosse para consoles tem que realmente ter uma boa estrutura, pois é outro nível de jogo. O Brasil não tem dinheiro e tem medo, pois quando estive no México a rede de loja Game Planet lançou junto com a Conami a distribuição o jogo “Lucha Libre” pros consoles Playstation 3 e Xbox 360. Eles têm muito mais investimento nessa área porque o governo resolveu investir. Além de investir, cortou todos os impostos de importação, mantendo somente os impostos estaduais. Bastou isso para incentivar o mercado e o lançamento do “Lucha Libre” que é um sucesso absoluto lá. Essa ascensão no mercado de jogos mexicano levou apenas quatro anos.

Bonus Stage: Aproveitando o gancho que você comentou dos impostos de importação no México terem reduzido a zero, aqui, no Brasil é outra realidade, não somente para jogos como para eletrônicos em geral. Temos como exemplo o Ipad. O que você acha que ainda falta para isso acontecer no nosso País? É o governo? São as empresas?

Moacyr: Não. Antigamente eu pensava que era o governo. Depois, pensei que fossem as empresas, mas quando eu estava em casa que olhei pro espelho eu pensei: o que falta é vergonha na cara de nós brasileiros. Nós não exigimos o nosso direito. Nós somos coniventes com tudo que nos falam. É a maldita mania do “desgraçadinho” que senta a bunda na cadeira e reclama! (risos) Então é isso, Deus e o mundo reclama, mas ninguém faz absolutamente nada. A culpa é nossa. Agora, juntar um monte de gente e dizer, “cara isso está errado vamos lá!”, duvido que isto não vá mudar. Parei de culpar os outros e comecei a olhar pra mim. Como você vai mudar alguma coisa se você não muda sua atitude? A partir do momento em que eu levantei minha bunda da cadeira, olha só o que o Jogo Justo virou. Quando entro em algum lugar pra dar palestra tem horas que eu paro e pergunto pra alguém: Você acha vídeo game caro? A pessoa logo responde com um “Nossa, eu acho um absurdo” e devolvo: “E o que você fez para mudar isso?”. Claro, a pessoa fica sem resposta. E esses impostos sempre foram assim no Brasil, o pessoal já está acostumado. E o pior, você abre porta para o contrabandista, para o pirateiro, abre a porta para a empresa que não é idônea e quer vender um jogo com lucro de 200%.

Bonus Stage: Em relação ao jogos. Sabemos que você é um grande colecionador . O que você vem jogando hoje e procurando conhecer?

Moacyr: Essa pergunta é tão boa, porque depois que entrei pro Jogo Justo nunca mais joguei! (risos) Foi bem o que um amigo disse: “quando você trabalha com games o que você menos faz, é jogar!” Então assim, hoje eu transpiro, respiro e aspiro Jogo Justo! Quando eu tinha um pouco de tempo eu jogava Castlevania: Lord of Shadows. E adorei o jogo, os gráficos estão bons, trilha sonora excelente… só que aí percebi mais uma coisa interessante. Quando terminei o jogo, que começaram os créditos, foi tudo produzido por uma empresa mexicana. Então, vemos mais uma vez que eles estão cada vez mais indo pra frente no mercado gamer. Temos que correr. Eles têm medo da possibilidade de ascensão do mercado brasileiro.

Bonus Stage: Percebemos que está acontecendo mais eventos de lançamentos de jogos. Por exemplo, há algumas semana atrás foi o lançamento do Donkey Kong que foi até no Zoológico de São Paulo. Virá também o lançamento do Gran Turismo que tem alguns dos carros do jogo passando por algumas avenidas principais de São Paulo…

Moacyr: Está tendo muito atrativo mesmo. Assassin’s Creed Brothers Hood terá um personagem que vai existir somente no Brasil. Exclusivo pra quem comprar nas lojas brasileiras. Mas assim, a coisa não explodiu porque o Jogo Justo ainda não “ganhou” nada efetivamente. Na hora em que o Jogo Justo fizer a coisa acontecer independente, esquece, não vai ter pra ninguém. Só mercado Brasileiro. Mas, junta a ganância, com tributo e a acomodação é o que a gente tem. Imposto lá em cima, todos mundo pagando e achando que aquilo é uma maravilha. Mas eu me importo e vou lutar até o fim pra mudar isso. O nosso mercado é um mercado canceroso, porque você não consegue comprar e o lojista não consegue vender. É um absurdo, os lojistas não ganham nada. E muitas vezes o lojista que trabalha certinho acaba levando do lojista que faz tudo fora da lei. Por exemplo, essas lojas na Santa Efigênia que vendem jogos originais a 150 reais. O preço de custo dos lojistas acaba saindo o preço que eles pagam, só que o lojista tem que pagar o funcionário e um monte de impostos. E às vezes, o maior problema não acaba sendo a pirataria e sim, o contrabando.

Bonus Stage: Atualmente, você como principal força na questão de jogos no Brasil, gostaríamos que desse um recado para os gamers finalizando.

Moacyr: Vamos parar com esse negócio força e Moacyr e vamos nos juntar! Não é vai lá, é vem comigo! Vocês já estão fazendo sua parte divulgando. É isso que a gente quer. Não custa nada! Porque começa a acontecer como já está acontecendo de filho de político procurar pra conhecer o Jogo Justo. E isso acontece por causa de divulgação. Gostou do Jogo Justo, se junte a ele!