Nunca antes na história desse país os games foram tão destacados em uma eleição. Desde o polêmico Angry Haddad, de 2012 ao atual mod de Super Mario no site do candidato Carlos Adão, além de outros games e memes feitos por militantes e eleitores adeptos da “zuera” , os nossos queridos joguinhos foram descobertos pelo marketing eleitoral e estão cada vez mais presentes nos intensos debates que antecedem a ida às urnas no próximo domingo.
O uso dos jogos como parte das campanhas (você pode conferir alguns na curadoria feita por Pedro Zambarda para o Bonus Stage) mostra que o potencial dos games como discurso está sendo reconhecido pelo público e pelos profissionais de comunicação. E sendo discursos, os games também podem ser simplistas ou “manipuladores”, centrados em ataques rasos (um jogo em que você deve simplesmente destruir o político “inimigo”, por exemplo) ou em estratégias de governo.
Conversamos com Eddy Antonini, candidato a deputado federal pelo estado de São Paulo que apresenta um programa eleitoral voltado para os games e seu público. “Eu acho interessante e, às vezes até curioso. Colocar o jogo só por ter um jogo na campanha não me parece a melhor estratégia, pois acaba ficando algo só pra chamar a atenção sem nenhuma relação. Não é porque eu gosto de videogame e um candidato fez um jogo que eu vou votar nele. Eu sei que é um jogo que foi colocado ali, a título de barulho simplesmente. Quando eu faço minha referência ou meu stream com gameplay o eleitor vê a minha proposta já, pois eu não estou desviando a atenção. O que eu recomendo para o eleitor é fazer algumas perguntas: Por que o candidato usou um jogo? Esse material anuncia as propostas ou leva o eleitor para as propostas? O candidato realmente se identifica com essa cultura ou ele simplesmente está fazendo barulho?” declarou.
Eddy chamou a atenção nas redes sociais pelo uso de referências ao universo geek e aos games no seu material publicitário, e por trazer abertamente a discussão sobre jogos no debate político, mas ressalta que o tom descontraído da campanha e as referências aos jogos não devem ser vistas como falta de seriedade: “O clima é descontraído, mas o assunto é sério. Essa é a minha frase-chave. Todos esses recursos servem para despertar a curiosidade do eleitor, mas a partir do momento em que ele vai ver o material, ele percebe que o tratamento é sério e dedicado. Aí que ele vê que política é importante e pode ser tratada em uma conversa prazerosa. Quando estamos relaxados e em um ambiente acolhedor e amigável, nós baixamos nossas defesas e preocupações e podemos focar no assunto. No final, quem acha que a minha abordagem é tiração de sarro ou brincadeira, acaba se decepcionando, pois percebe que a intenção de se tratar os assuntos é legítima. ”
O candidato também acredita e defende que o público gamer já é representativo o suficiente para eleger um candidato que defenda suas pautas. “Segundo a Newzoo, o Brasil tem mais de 35 milhões de gamers. Para um país de quase 200 milhões de habitantes, estamos falando de 17,5% da população. Além desse número nós temos, por exemplo, a final do Campeonato Brasileiro de League of Legends que lotou o Maracanazinho quase que imediatamente. Só não foram mais que 8 mil pessoas porque esta é a lotação do local. Sou professor de curso técnico, onde o público tem uma faixa etária entre 16 e 40 anos e em todas as turmas, o videogame é um assunto corriqueiro. Todos estes fatores somados indicam que vivemos em um momento em que videogame se tornou parte do dia a dia da sociedade. Nós gamers já exercemos nosso papel na sociedade de forma ativa: Votamos, cogitamos, questionamos e sugerimos o rumo em que o país toma. A diferença é que minhas propostas inciais são de interesse comum entre os gamers: A educação, o desenvolvimento do mercado nacional e o reconhecimento do eSport. Estas propostas hoje são um assunto importante na sociedade pois um crescimento da indústria de games com certeza nos leva a um crescimento economico e cultural.”
Para debater suas propostas, Antonini convida seus eleitores para streamings através do site Twitch.tv, que teve seu poder de mobilização amplamente discutido após o fenômeno Twith plays Pokémon. “Como a maioria dos gamers, eu já conhecia o Twitch e o fenômeno Twitch plays Pokémon, mas não diria que foram exatamente minhas inspirações. Tive a ideia da conversa com o gameplay quando estava conversando sobre minha campanha com alguns amigos enquanto jogávamos juntos. Acredito que o candidato jogando aproxima o eleitor do mesmo porque mostra conhecimento de causa. Como que eu vou advogar em favor de videogame, eSport e educação se não tenho intimidade com o assunto? Quando o eleitor me vê jogando algo e até terminando o jogo, ou fazendo comentários que só quem conhece a cultura é capaz, ele percebe que eu sei do que estou falando. ”
Além do público, se eleito Antonini pretende contemplar desenvolvedores durante seu mandato. “Não podemos focar a economia brasileira única e exclusivamente em bens tangíveis. Temos uma população de desenvolvedores (e aqui insiro todas as profissões que são envolvidas no processo de produção do jogo) muito criativa no nosso país que é completamente capaz de trabalhar no impulso para girar o círculo produtivo. É um círculo produtivo muito benéfico que vai crescendo mais e mais. O sistema de educação usa o game como ferramenta e como inspiração e o cidadão que não dava atenção ao game passa a dar, isso gera a demanda da empresa de games que contrata mais profissionais. Gera-se então a demanda do profissional de games que incentiva a abertura de cursos especializados. Para haver o curso necessita-se de profissionais da área para lecionar. Por fim temos toda uma economia do videogame circulando com um influxo de participantes por causa do crescimento natural. Podemos prover respaldo nacional para leis estaduais e municipais de incentivo fiscal às produtoras de jogos, da mesma forma que aconteceu, e deu muito retorno positivo, no Canadá em cidades como Montreal e Vancouver.”
A presença de candidatos que defendem games e o uso dos mesmos em campanha mostra que apesar de a expressão “é só um jogo”ainda ser constante em discussões que cobram mais seriedade de jogadores e indústria, o videogame está se consolidando como mídia e cobrando posicionamentos da sociedade ao seu respeito. Por isso a equipe do Bonus Stage recomenda: jogue, e vote, consciente.