Sabe aquela sensação de deixar um velho amigo, companheiro de aventuras e diversões para trás? Para mim, essa é a sensação de dar adeus a um console, e é isso que abordarei nessa matéria.

Estava aqui pensando com meus botões, logo após decidir por vender meu Nintendo 3DS Cosmos Black. Mesmo o tendo substituído por um 3DS XL, a sensação foi quase a de deixar um irmão de armas de lado, como se eu estivesse esquecendo tudo o que passamos.

Creio que todo jogador de vídeo game que realmente ama o que joga, mesmo que esteja jogando um clássico dos 8 bits, ou finalizando The Last of Us na dificuldade Survivor, acaba se envolvendo emocionalmente com seus jogos, consoles e até mesmo acessórios. Eu mantenho até mesmo a “sanfoninha” que eu usava para jogar Guitar Hero no meu DS Lite! E essa relação longa, que geralmente rende excelentes frutos, aonde um jogo alcança o patamar de obra de arte em suas mãos, tem tudo para ser longínqua e duradoura. Porém, o adeus às vezes é necessário. Seja para você entrar em uma nova geração com o pé direito (ou o esquerdo, se não existe retrocompatibilidade alguma), seja por você simplesmente não ter mais tempo, ou porquê você preferiu aquela revisão de hardware que veio após o lançamento do console. E esse momento pode ser bem leve, ou pode chegar a deixar marcas profundas em quem precisa dar adeus a seu amigo de longa data.

Isso me levou a pensar em tudo o que um console representa na vida de nós, jogadores. Às vezes, você decide comprar um console em um momento complicado de sua vida, optando por entrar em dívidas para que você possa tê-lo em suas mãos. Conto como experiência pessoal a compra de dois portáteis: tanto o Nintendo DS Lite quanto o 3DS foram comprados em situações adversas. Na primeira eu simplesmente ESTOUREI meu cartão de crédito para poder ter meu DS Lite azul. No caso do 3DS, todo meu primeiro salário como professor foi para a compra dele. Em outras situações, foi aquele presente inesperado, que resolveu entrar na sua vida e mudá-la totalmente, como foi com meu Super Nintendo. Graças ao presente do meu pai, comecei a me interessar pelas duas “carreiras” que tenho hoje: a de blogueiro apaixonado por games e a de professor de inglês. E foi também o primeiro console que tive a oportunidade de jogar junto com meu pai. Várias madrugadas fechando Super Mario World, tomando uma surra em Street Fighter, ou simplesmente um palpitando o que o outro deveria fazer nas florestas de Donkey Kong Country.

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E são essas pequenas experiências que marcam tanto na minha cabeça. Aquele sofrimento, e a sensação libertadora ao ligar o console pela primeira vez. A sensação de finalmente chegar naquela festa aonde você pode estar encontrando seus melhores amigos para a vida toda, na hora certa.

E aí, após anos de aventuras juntos chega a fatídica hora da separação. Seja pelas três luzes vermelhas da morte, seja pela falta de ventilação, ou simplesmente porque aquele ciclo terminou, e é hora de partir para um novo mundo. Deixar velhos amigos de lado é horrível, principalmente por tudo que ele representou para você naquele passado. E talvez seja a hora de ele alegrar a vida de outras pessoas, de ele abrir a porta de entrada daquela festa para a nova geração.

Tenho para mim que a pior coisa que pode acontecer a um console e portátil é a falta de uso. Deixá-lo juntar poeira por meses a fio é praticamente uma ofensa a todo o tempo que você e ele passaram juntos. Eu sinto que, se esse momento chega, o melhor a fazer é resolver o problema. Seja tentando renovar a relação, voltando a jogar os jogos que no passado te alegravam, ou simplesmente deixando a bola do vídeo game rolar e entregá-lo a um novo dono.

Eu sempre prefiro passar meus consoles usados para frente. Sei que não é a mesma coisa que eu senti quando o toquei pela primeira vez, mas definitivamente alegrará os dias de quem quer que esteja controlando os mesmos bonequinhos que eu estava no passado. Sei que a emoção que senti ao passear pelos campos de Hyrule cavalgando com a Epona pela primeira vez poderá ser sentida, talvez não na mesma escala que a minha, mas definitivamente irá mudar a vida daquela pessoa.

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Até eles sentem saudades dos velhos consoles…

Já estive dos dois lados da moeda: a pessoa que recebe um console usado de presente, e a pessoa que repassa/vende um console usado. Na primeira situação, sinto-me honrado por poder dar continuidade a algo que deu tanta alegria para outras pessoas. Ainda mais por ser uma novidade, uma porta de entrada para uma realidade que não fazia parte de seu mundo. E, na outra situação, sou acometido por essa terrível tristeza inicial, de estar me despedindo de um velho amigo. Porém, ao ver que ele vai seguir um caminho novo, nas mãos de pessoas que o tratarão tão bem quanto eu o tratei, e que o manterão alimentado com jogos novos e excelentes, sei que será o melhor para nós dois.

Esse rompimento, por mais traumático que seja, pode ser o início de uma nova caminhada para os três: você, que poderá se aventurar em novas terras com seu novo companheiro; para aquele que foi presenteado com o console usado, mas com muito fôlego para continuar demonstrando seu poder em outros lares e para seu amigo de plástico e circuitos eletrônicos, que continuará a servir ao seu principal propósito: divertir, educar e ser um companheiro para todos os momentos.