Já adianto: esse vai ser um post controverso. Muitos provavelmente não vão concordar com a visão que eu estou apresentando neste texto, mas nem por isso vou deixar de dividí-lo com vocês, ainda mais por se tratar de uma análise que visa a discussão entre todos sobre os rumos do portátil que parece não ter se encontrado ainda.
Lançado em dezembro de 2011 no Japão, o PS Vita parece que ainda não se ajustou ao mercado. Com números pouco expressivos pelo mundo todo (com praticamente 8 meses de console, apenas 2 milhões e meio de unidades foram vendidas no mundo todo, sendo desse total 830 mil no Japão), quando comparado de frente com o concorrente 3DS, portátil da Nintendo, a coisa fica mais complicada ainda: o pequeno notável (que, depois do lançamento, já não está mais tão pequeno) já bateu a casa dos 18 milhões de unidades vendidas no mundo todo, com quase 6.6 milhões de unidades sendo apenas no Japão. Tudo bem que o novo portátil da Big N já está com 1 ano e 5 meses no mercado, mas a coisa está longe de ser aceitável apenas por esse ponto.
Mas aonde terá a Sony errado? Não teria a Sony aprendido com o fim da geração anterior de portáteis, aonde o Nintendo DS vendeu o dobro de PSP’s? Onde pode estar o problema?
Muitos culpariam a falta de títulos para o console, o que me levou a fazer uma análise das vendas do portátil da Big N em Outubro de 2011, época em que o 3DS acabava de completar 6 meses de vida ao redor do mundo (e 8 meses de vida total do console) e os números me surpreenderam: 5 milhões e 300 mil unidades ao redor do mundo, o que dá quase o dobro de unidades do que o PSVita tem hoje. Mas não é apenas esse o problema.
Temos o fato de que o 3DS passou por uma redução drástica de preços dia 12 de agosto de 2011, o que deu por si só um aumento significante no número de unidades vendidas, como é mostrado nas imagens abaixo:
Legenda: Valores do Nintendo 3DS em números globais uma semana antes da redução de preços
Agora, batendo diretamente com os valores globais em outubro, temos o seguinte cenário:
Legenda: Valores do Nintendo 3DS em números globais com 8 meses de console no mercado
Já consegue-se ver uma diferença notável nos valores. E aí entra a última imagem de análise direta do 3DS, com os números de 22 de julho.
Legenda: Valores do Nintendo 3DS em números globais atualmente
Tudo isso devido à mudança da estratégia da Nintendo, com a primeira revisão se aproximando e muitas franquias já lançadas no 3DS.
E agora, para título de esclarecimento, a imagem abaixo mostra como está o PS Vita na semana de 22 de julho.
Legenda: Valores do PlayStation Vita em números globais atualmente, com 8 meses de console
A diferença entre esses valores beira o absurdo. Tudo isso apontaria para dois fatores determinantes: falta de títulos e franquias para o PS Vita e nada de uma revisão de valores.
Apenas a título de curiosidade, um gráfico que mostra desde o nascimento do 3DS até a última análise global do Video Game Chartz, comparando a venda dos dois portáteis:
Legenda: Tabela comparando os números de vendas dos consoles portáteis no mercado
O único período (de exatas duas semanas) de um maior número de vendas do PS Vita sobre o 3DS ocorreu na semana do lançamento mundial do console (25 de Fevereiro) e na semana seguinte (2 de março). No restante do período, temos um número maior de vendas do portátil da Big N.
Porém, somente esses dois fatores seriam determinantes no número de unidades vendidas do console? De acordo com os acionistas da Sony, pode ser sim um problema. Quando questionaram a empresa sobre as vendas do PS Vita, tudo o que ouviram como resposta foi: “nos negamos a responder essa pergunta”. E, sabendo o quanto é importante ter os acionistas ao seu lado, pode ser que a Sony tenha cometido um erro nessa.
Mas ainda não me parece o suficiente para explicar o sucesso da Nintendo na geração passada, e também o abismo no número de vendas dessa geração. E eu talvez tenha encontrado essa resposta ao pesquisar mais a fundo sobre o assunto.
A Sony vem tentando, desde que introduziu o seu primeiro portátil no mercado, mudar a experiência portátil. Lançando títulos cada vez mais parecidos com títulos de consoles de mesa, a Sony tenta fazer seus jogadores terem uma experiência aproximada nos dois, tentando assim unir mais ainda a experiência entre seus produtos. Não posso dizer que estou exatamente certo nessa, pois teria que discordar com 75 milhões de unidades do PSP vendidas no passado, e 2 milhões e meio de unidades vendidas atualmente do PS Vita, mas honestamente acho que, se a Sony realmente está concorrendo nessa geração contra o Nintendo 3DS, o pensamento tem de mudar.
Mas mudar como, vocês me perguntariam? E eu responderia: portátil é portátil, console de mesa é console de mesa. Tamanho de tela e resolução gráfica importam? Sim, e muito. Porém, por si só, não são o suficiente para “vencer” uma geração. Jogadores de portátil querem ter uma experiência única, aonde podem desfrutar tanto de jogos mais curtos e casuais (apontando aí o emergente sucesso de jogos mobile, assunto para outro post), só que também querem experiências mais profundas, com imersão e muitas horas de gameplay, mas não da mesma forma que ocorre em um console de mesa. É a união dessas experiências que um jogador de consoles portáteis procura, e não apenas jogar um jogo que é praticamente a mesma coisa que você já jogou em um título AAA no seu console de mesa.
O maior “problema” em se tomar uma postura dessas é a questão do valor que o gamer vai gastar nessa brincadeira. Tomemos como exemplo o PS3, com valores em dólares (pois o valor brasileiro assustaria mais ainda) para tornar mais verídica a análise: a versão mais barata (160gb), de acordo com a BestBuy, está custando US$ 250. Caso eu escolha o jogo Uncharted 3: Drake’s Deception na mesma loja, pagarei o valor de US$ 40. Apenas nessa brincadeira, já terei gasto US$ 290. E agora, para também poder ter meu PS Vita (mesmo padrão, valores mais baratos), vou ter que pagar US$ 250 dólares na versão WiFi do portátile mais US$ 50 pelo Uncharted: Golden Abyss. Só aí, mais US$ 300. São praticamente 600 dólares para poder ter tudo de uma mesma série. E isso acaba sendo um pouco desencorajador.
Talvez, justamente por esses fatores, muitos acabam não vendo o PS Vita e o Nintendo 3DS como concorrentes diretos, por oferecerem formas diferentes de se jogar. Porém, não é assim que o mercado encara as coisas. Talvez, nessa versão mais “romântica” de opiniões, o PS Vita não esteja saindo tão mal, por atender a uma parcela “não tão” pequena de gamers. Mas, ao que tudo indica, a realidade é completamente diferente.
Muitos que me conhecem sabe que acabo puxando a sardinha para a Big N, e por “comemorar” péssimos resultados de vendas da concorrência. Porém, em uma situação dessas, somos nós – gamers casuais, hardcorers e todo o restante – que perderíamos com uma possível “vítoria por W.O.” da Nintendo. O que move a evolução dos jogos, consoles e de tudo que envolve esse mercado tão complexo é a competição direta. A Nintendo precisa de concorrência para poder trazer cada vez mais recursos para seus jogadores, assim como a Sony precisa da Nintendo para dar uma experiência cada vez melhor para seus jogadores.
Meu coração Nintendista pode até dar risada dessa maré que o “Vitanic” (alcunha HILÁRIA que é utilizada nos fóruns que eu ando frequentando), ou mesmo o “VitaGo” (outro engraçado, comparando a atual situação do PS Vita com o PSP Go, fracasso de vendas da Sony) se encontra, mas meu lado gamer espera realmente que a Sony encontre a solução para seus problemas e que a concorrência só dê frutos positivos para os dois lados dessa disputa.
Todos os gráficos e dados são de propriedade do VGChartz.