O dia 11 de agosto de 2011 foi um dia atribulado no mundo dos games. Último dia para quem queria atualizar seu Nintendo 3DS e conectar a eShop, tornando-se embaixador, tendo direito direito aos 20 títulos gratuitos até o fim do ano na rede de downloads. Também, foi o dia em que um rumor pegou muitos de surpresa: existe a possibilidade da Nintendo virar apenas uma softhouse para o iOS, que muitos veem como o assassino (ou transformador) do portable gaming como o conhecemos?

Rumores… Os grandes movimentadores de ações de empresas. Muitas vezes se provam verdadeiros, como foi o caso da tela no controle do WiiU que aproximou o console dos tablets. Outras vezes, estão quase certos, como foi o caso do abraço parcial da Nokia ao sistema Windows Mobile 7 – Todos esperavam um smartphone Nokia rodando o WM7 até o fim do ano, e o que temos é o N9, sucessor do N8 (smartphone front-end da Nokia) tendo o MeeGo como alma. Ainda existem rumores que tornam alguns empresários doentes da noite para o dia, que quase sempre são apenas papo de boteco.

O rumor que retumbou pelos quatro cantos da internet foi um tanto ousado. A notícia que veio através da Bloomberg é que investidores estariam forçando a Nintendo a rever sua estratégia e embarcar de vez na era dos aplicativos para iOS.

Não estou aqui para especular a veracidade da notícia. Também não estou aqui também para declarar todo o meu amor pela Nintendo, dizendo que isso é impossível: que a Big N tem tudo para dominar o mercado, que o que está faltando para o 3DS (portátil dessa nova geração, que vem amargando poucas vendas por diversos fatores já destacados aqui) começar a vender feito água é apenas o apoio dos fãs. Tampouco estou aqui para torcer que esse rumor se prove verdadeiro e eu possa curtir alguns dos meus títulos favoritos no meu smartphone sem precisar recorrer a meios ilegais. Apenas pretendo analisar a situação, tendo em vista o mercado da atual da AppStore e meu conhecimento como consumidor e fã. Posso estar errado quanto às minhas estimativas, mas vale pelo exercício e para passar a minha experiência.

Depois de quatro meses com meu iPhone 4, arrisco dizer o que penso sobre a AppStore: vejo dois mercados predominantes, que convivem bem justamente pelo seu afastamento, já que não interferem um no território do outro.

De um lado, temos empresas que se adaptaram ao modelo “Freemium”. Nesse modo, o aplicativo é gratuito ou, ainda, paga-se um valor simbólico (geralmente 99 cents) para o uso. Porém, para ter um desenvolvimento acelerado, você tem a opção (veja bem, OPÇÃO) de comprar uma moeda “diferente”, como é o caso das “TowerBux” no jogo Tiny Tower, um jogo de construção em que o objetivo é construir um prédio que tenha estabelecimentos comerciais e residenciais. Com essa moeda, você acelera tempo de produção dos produtos comercializados dentro de sua torre, compra elevadores mais rápidos, faz com que tudo se mova mais rápido, podendo até mesmo trocar os Bux pela moeda tradicional. Ou seja: um sistema em que o dinheiro real influencia diretamente no desenvolvimento do jogo.

Do outro lado, temos as empresas que realmente colocam seu trabalho à prova. Seja com jogos como Infinity Blade, Dead Space ou até mesmo os três primeiros Final Fantasy, Final Fantasy Tactics e Crystal Defenders (além de outros jogos exclusivos pro iOS) que a Square-Enix desenvolveu. Jogos esses que, por exigirem maior trabalho, acabam tendo um valor mais elevado em comparação aos outros disponibilizados na AppStore. E, justamente por isso, acabam não vendendo tanto quanto o esperado.

Claro que a coisa não é totalmente preto no branco. Temos novas empresas surgindo a cada dia na AppStore, desenvolvendo jogos excelentes e simples, como é o caso da Rovio e seu hit instantâneo Angry Birds. Ainda assim, a maior parte do que vemos são esses dois modelos de fazer negócio convivendo entre si.

É nesse cenário que surge, ainda que hipoteticamente, a Nintendo. Com todas as suas franquias exclusivas e seus mascotes consagrados, podendo desembarcar nas telas do iOS. É ai que aparece o grande questionamento: como isso vai acontecer – se acontecer?

Tendo esses dois cenários, vamos ao que importa:

CASO 1 – Nintendo abraça a política Freemium

Imaginem a seguinte situação: você está jogando Pokémon. Quando, de repente surge um Pokémon aleatório e você gasta uma MasterBall para capturá-lo. Isso num jogo normal causaria insanidade no jogador. Mas, como vivemos num cenário diferente, o jogador abre o Menu, conecta-se ao Shop e compra um pack com 10x MasterBalls por 1,99.

Outra situação envolvendo Pokémon, recorrente nos consoles, era o fato de que eram lançadas duas versões, cada uma contando com seu Lendário específico, ou Lendários. Porém, agora, você pode comprar um pack com todos os pokémons específicos da versão que você não comprou, por apenas 10 dólares.

Para os mais viciados ainda, podem ser disponibilizados itens que aumentam EV’s (os Effort Values, que é o famoso “serious business” de Pokémon), outros que fazem os Pokés nascidos de ovos já virem com status perfeitos, ou que subam seus níveis de experiência mais rápido… Um mundo de possibilidades pra você ser melhor do que seus amigos, pagando pouco.

Pensando em outro jogo: Mario Kart, por exemplo. Vários itens poderiam ser adquiridos da mesma forma, como peças novas para os carros, ou os itens que sairão nos slots. Me arrepia sequer pensar num cenário desses.

CASO 2 – Nintendo mantém preços altos

Esse caso é o mesmo de algumas empresas como a Square-Enix: alguns de seus apps chegam a custar 17 dólares. Isso na versão para o iPhone, como é o caso de Final Fantasy Tactics, ou Final Fantasy III (aquele excelente jogo que fiz review aqui), que está apenas um dólar mais barato . Os jogos se mantêm fiéis ao conteúdo original, apenas tendo o gráfico “acertado”, as músicas melhoradas e a interface focada no uso da touchscreen capacitiva.

Porém, esses jogos também constam nas listas dos mais pirateados da AppStore, o que acaba desanimando alguns desenvolvedores. Não é bem o caso de uma Square-Enix (ou até uma Nintendo) mas, ainda assim, é um mal presente demais para ser ignorado.

Claro que isso não levaria a Nintendo à falência, mas poderia resultar em menos jogos “portados” para a plataforma. Talvez Super Mario Bros III não seja adequado ao iOS por esses motivos. Isso faria com que muitos gamers deixassem a Nintendo de lado quando a opção fosse a AppStore, justamente pela falta de “novidade” de um jogo tão caro.

Claro: tudo isso pode ser apenas um devaneio de uma mente assustada com as mudanças que estão por vir – se vierem. Mas eu, como usuário dos dois sistemas, tendo a pensar no “worst-case scenario”, principalmente com tantos exemplos ruins aparecendo todo dia na AppStore.

Porém, talvez seja essa a forma ideal de seguir em frente.Tudo que podemos pensar numa situação dessas é: se for pra acontecer, que seja sempre para o melhor. Seja o 3DS fazendo muito sucesso e mostrando sua real utilidade, ou a Nintendo entrando com o pé direito no iOS. Só nos resta aguardar as cenas nos próximos capítulos dessa novela.

2 COMENTÁRIOS

  1. Status da galerê dos VG:
    Sonystas: Comemoram como nunca comemorou antes.
    Nintendistas: Se matam.
    Gammers: Lamentam.

    Não gostaria que isso aconteça, mas se é pela sobrevivencia da Nintendo tudo é válido.

  2. Bela análise do mercado portátil atual. É de se admirar e espantar que o 3DS venda tão pouco, se comparado aos antecessores. Acho que essa é a primeira vez que a Nintendo tem problemas no mercado dos portáteis.

    Espero que, no final das contas, a Nintendo escolha o melhor caminho. Afinal não dá pra imaginar um mundo sem os jogos da Big N

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