Para um gamer, como eu, não é difícil ver nas principais redes sociais e na blogosfera uma grande movimentação quando o assunto é jogo, videogame e uma posição aos valores absurdos cobrados no nosso País em relação aos mesmos. Ano passado, acompanhamos o projeto Jogo Justo, que vem lutando por menos impostos aos jogos e consoles, eventos sociais onde a área de jogos teve um grande repercussão, além de algumas escolas e faculdades destacarem-se por oferecer cursos de desenvolvimento de jogos. Desenvolvedores brasileiros trabalhando em jogos de grande repercussão e o lançamento do Kinect para o Xbox 360, inventado pelo curitibano Alex Kipman. Enfim, diversas ações que criaram uma perspectiva por um mercado mais amplo no nosso país vem sendo ameaçado por um projeto de lei que proíbe os jogos por aqui.

Apresentado em 2006, o Projeto de Lei do Senado nº 170/06 do senador Valdir Raupp (PMDB-RO) visa proibir e criminalizar “o ato de fabricar, importar, distribuir, manter em depósito ou comercializar jogos de videogames ofensivos aos costumes, às tradições dos povos, aos seus cultos, credos, religiões e símbolos.” Em resumo: 90% dos jogos que a gente conhece, será proibido. Nada de God of War, Call of Duty, Halo, e qualquer jogo que incite violência ou vá contra religiões e maus costumes. Se bobear, até Super Mario Bros. poderá ser proibido…

Mesmo engavetado há algum tempo no congresso e passando pelas mãos de outros senadores (o primeiro, Marcelo Crivella, nem chegou a avaliá-lo, e o segundo, Valter Pereira, demorou um ano pra fazer um relatório de duas páginas que é mais cômico que o próprio projeto), no final de Dezembro de 2010 o projeto voltou a aparecer após a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) emitir um relatório a favor da votação da lei. Pra piorar, ainda sugeriu a alteração da palavra ‘videogame’ para ‘jogo eletrônico’.

Deixando a política de lado (a intenção não é entrar nesse ponto), você pode ler o projeto de lei na íntegra clicando aqui, mas o pessoal do Gizmodo e do Kotaku analisaram os principais pontos do projeto de forma bem humorada, então recomendo vocês a lerem e entenderem melhor o projeto.

Onde entra a Revolta Gamer?

É claro que muita gente ficou espantada com a possibilidade desse projeto ser aprovado e os jogos proibidos, e comigo obviamente não seria diferente. O pessoal da Level Gamer, parceiros da Bonus Stage, teve a iniciativa em incentivar contra a aprovação desse projeto, nascendo a Revolta Gamer, protestando contra a censura aos jogos e incentivando também a hashtag #RevoltaGamer no Twitter.

Não há dúvidas que um projeto de lei desses é muito, muito preocupante. Caso aprovado, não é apenas a proibição dos videogames que acontecerá, mas todo um esforço de grandes profissionais jogados fora. Porque devemos aceitar a proibição de uma forma de entretenimento que, não diferente do que encontramos em livros, filmes e na televisão, incentive a cultura e a criatividade das pessoas? Conheço muita gente que passou a se interessar em leitura depois de conhecer alguns jogos (principalmente os RPGs) e muitos outros que se interessaram a aprender um instrumento musical depois de jogar Guitar Hero. Enfim, se somos contra tudo isso, porque não fazemos a nossa parte?

Vejo a Revolta Gamer não só como uma iniciativa contra essa censura, mas também contra a proibição de um mercado que, mesmo pequeno, vem crescendo pouco a pouco no nosso país e é extremamente promissor; é também a favor da atividade intelectual, artística e científica do desenvolvimento dessa mídia. É contra, apoiando o projeto Jogo Justo, o preço abusivo dos impostos cobrados nos jogos e consoles no nosso país. E digo tudo isso como fã, como gamer, como ‘blogueiro’, como designer e estudante de desenvolvimento de jogos eletrônicos, como cidadão que apóia um mercado promissor que incentive a criatividade e a cultura através dessa forma de entretenimento.

Já está mais do que na hora de muitos entenderem que videogame é arte, é cultura, é desenvolvimento. Mesmo que esse projeto não dê em nada (e torço pra que esteja certo disso), não custa nada apoiar contra essa censura no Twitter e colocar a #RevoltaGamer nos Trending Topics nacional. Há também um abaixo assinado contra essa lei, e você pode assinar ela clicando aqui.

Não podemos ficar parados, esperando o pior acontecer e depois reclamar. Apóie a #RevoltaGamer e o #JogoJusto, por um País mais justo onde só temos a ganhar.

Teve seu primeiro contato com um Atari 2600 aos 5 anos, e desde então nunca mais parou. Fanático por RPGs, jogos de ação e old games como Sonic e Castlevania, está sempre jogando quando o tempo permite - ou quando seu trabalho como designer não impede de se divertir.