Enquanto andava no interior de uma casa, sem armas, sem nada e não entendendo aquilo, me deparei com uma espécie de lobisomem que dilacerava um corpo no chão. “É um inimigo, aqui vamos nós”, pensei. Golpeei a criatura e, ao ser atacado, morri. A tela mostrava a frase “Morreu”, algo que eu obviamente já sabia. O que eu não sabia é que essa tela – e talvez esse sentimento de derrota – ia me perseguir o tempo todo.

Assim funciona Bloodborne, novo título desenvolvido pela From Software exclusivamente para o Playstation 4. Primo não tão distante dos jogos Demon Souls e Dark Souls, já havia sido avisado que seria um jogo difícil. Só não sabia que eu teria tanta dificuldade em seguir com o jogo. Sim, Bloodborne é um jogo difícil, pelo menos no começo. Como já dizia o ditado entre aqueles que jogam (nós), é o tipo de jogo que separa os homens dos meninos.

Exclusivo do Playstation 4, o jogo me trouxe pela primeira vez a certeza de estar jogando na nova geração. Bloodborne tem gráficos tão bem feitos que chega ao ponto de te confundir com os elementos chaves do cenário, como as alavancas distribuídas e portões normalmente trancados. O cenário gigantesco mostra o trabalho impecável dos artistas envolvidos: construções gigantescas, iluminação coerente, tudo muito bem detalhado. As criaturas então, nem se fala: são assustadoramente incríveis. A aura misteriosa do jogo misturada com seu visual obscuro nos dá a impressão de visitar uma Londres vitoriana dominada pelas trevas. Mais gótico, impossível. A escuridão nunca foi tão bonita, e perigosa.

Você caminha por Yharnam, uma cidade dominada pelo caos e pelas trevas que transformam pessoas em seres amaldiçoados. Sua missão, como um caçador que acaba de receber uma transfusão de sangue que de uma certa forma o protege, é acabar com todo o mal existente utilizando os mais diversos tipos de armas e equipamentos. A caçada começa, e a matança também.

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Não é tão difícil assim

Não me lembro qual foi a última vez que encontrei um jogo com esse tipo de dificuldade, mas a principal crítica foi essa: é um jogo muito difícil. Confesso que não estava familiarizado com os jogos da série Souls, mas me empolguei com o que Bloodborne tinha a oferecer. Os monstros que você enfrenta, as armas que você escolhe – que vai de uma série de cutelos, foices, machados e até armas de fogo – , os caminhos que você escolhe no decorrer do jogo, tudo é absolutamente importante. E este é um dos pontos positivos de Bloodborne: apesar da dificuldade que o jogo oferece, existem várias formas de enfrentar o inimigo.

O jogo segue o mesmo esquema da série Souls. Ao derrotar um inimigo você ganha ecos de sangue, que podem ser usados para tudo, desde subir o nível de seu personagem a melhoria de armas, até a compra de itens – que acredite, vai ajudar muito na sua jornada. Apesar da frustração ao perder todos esses ecos e começar do zero, morrer em Bloodborne é mais o que necessário, é uma questão de prática. Não se desespere se você perder 5 horas de jogo antes mesmo de enfrentar o primeiro chefão do jogo. Isso só te ensina qual as melhores armas e estratégias que você deve usar ao enfrentar os inimigos espalhados no gigantesco mapa. E não se desespere em ter perdido tudo: você pode recuperar tudo ao derrotar a criatura que te matou anteriormente.

E bota gigantesco nisso, Yharnam e todas as localizações do jogo são imensas. Não é à toa que o jogo demora para carregar, já que há muito a ser mostrado. Felizmente ao enfrentar um dos grandes chefes do jogo libera uma lanterna, onde o jogador pode caminhar e visitar outros locais do jogo, além do Sonho do Caçador – uma espécie de hub onde é possível melhorar seus itens e até seu próprio personagem, sendo o seu ponto de partida. Não pense que o jogo é um simples vença ou morra para a nova geração. Bloodborne ainda tem algumas surpresas espalhadas como os Cálices, que leva o jogador a masmorras escondidas atrás de novos itens.

Outro fator importante e que ajuda os que sentem mais dificuldade é o modo online. Você pode entrar em uma nova aventura ou convidar um amigo a participar de seu jogo, facilitando as coisas. Bem, não tudo: com dois jogadores em cena, automaticamente Bloodborne fica um pouco mais difícil para balancear a dificuldade. Claro, isso vai depender do nível dos jogadores. Ainda assim, o seu modo online deixa o jogo um pouco mais divertido, nos dando a boa sensação de não estar sozinho.

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A dificuldade e a riqueza de detalhes tornam Bloodborne um jogo incrível – jogando sozinho ou não

De uma certa forma, Bloodborne tenta levar ao jogador todo o aspecto horripilante que conhecemos em diversos jogos a um novo nível. É diferente de um survivor horror, mas te assusta; não é um jogo de terror, mas as partes mais escuras te deixam em estado de alerta como em um bom filme de suspense – você sabe que algo vai acontecer, só não sabe quando. Mesmo com elementos de RPG, é uma ação desenfreada que te acostuma a desviar na hora certa e dar o seu melhor golpe. Defender-se é inútil na maioria das vezes, e depois de horas enfrentando criaturas dos mais diversos tipos, você finalmente aprende que na maioria das vezes o ataque é a melhor forma de vencer – seja com um tiro de sua pistola, ou jogando um coquetel molotov.

Bloodborne com certeza é um título que não apenas diverte o jogador em suas tentativas de vencer o-jogo-mais-difícil-do-mundo, mas na verdade nos dá uma lição: a de que títulos como esse prendem a atenção dos jogadores a atingir uma prática sem igual, como um treinamento perfeito para ser um hardcore gamer. Mas o mais importante é mostrar a todos os outros títulos que o que importa mesmo nos jogos é o bom desafio. Bloodborne é impecável em tudo o que oferece, e muda completamente a nossa mentalidade nos videogames. Morrer nunca foi tão divertido.